Esta semana, entre os dias 24 e 26 de Outubro, o The Wall Street Journal organizou uma conferência de tecnologia em directo. A WSJ Tech Live 2022 teve imensos convidados do mundo inteiro, e o CEO da Microsoft Gaming, Phil Spencer, esteve presente no último dia para falar de Call of Duty, Xbox Game Pass, metaverso, mobile e muito mais.
O evento em si é de acesso restrito, e apenas se poderá encontrar algumas gravações na internet. No entanto, pessoas como Tom Warren, Editor Sénior do The Verge, partilharam excertos dos painéis de discussão.
A INFLUÊNCIA DE CALL OF DUTY
Primeiramente, em relação ao negócio que continua a dar que falar – a compra da Activision Blizzard por 68.7 mil milhões de dólares americanos – a constante troca de argumentos entre a Sony e Microsoft, aliada às preocupações da Competition and Markets Authority (CMA), tem suscitado falatório por meses. Um dos tópicos refere-se ao receio da Sony em perder o franchise Call of Duty da PlayStation, apesar de vários membros da Microsoft e Xbox terem afirmado, em diferentes momentos, que não faria sentido tornar CoD exclusivo e perder milhões de jogadores. Enquanto a CMA continua num penoso processo que se arrasta devido a estas preocupações, as mensagens corporativas continuam a fazer-se passar.
O tópico foi novamente tocado esta quarta-feira, com Phil Spencer a desenvolver um pouco mais sobre o verdadeiro interesse na aquisição das empresas que possuem ainda as propriedades Diablo, World of Warcraft, Starcraft, Spyro e Crash Bandicoot. O líder da Xbox afirma, até, que gostaria de ver a marca em mais plataformas.
Call of Duty, especificamente, estará disponível na PlayStation. Adorava vê-lo na Switch, adorava ver o jogo jogável em muitos ecrãs diferentes. A nossa intenção é tratar Call of Duty como o Minecraft. Esta oportunidade para nós é realmente sobre mobile. Quando pensas em 3 mil milhões de pessoas a jogar videojogos, há apenas cerca de 200 milhões de famílias na consola.
Phil Spencer
Spencer afirma também acreditar que as discussões entre as diferentes entidades têm sido justas, mas que conta que a Microsoft consiga fechar o negócio, e que planeiam manter Call of Duty na PlayStation “enquanto fizer sentido“.
O MERCADO MOBILE
A empresa fundada por Bill Gates e Paul Allen está a apostar fortemente no futuro dos jogos mobile, esperando inclusive superar a Apple e Google na forma como as pessoas usam smartphones para jogar.
Temos de quebrar o duopólio de apenas duas vitrines disponíveis nas maiores plataformas. Temos de encontrar uma forma de criar mais engajamento e monetização pelo mobile. É imperativo para o nosso negócio.
Phil Spencer
Como notado pelo The Verge na semana passada, não é esta a primeira vez que a empresa americana demonstra o seu interesse por uma fatia do bolo deste mercado. Os primeiros indícios de planos surgiram em Fevereiro, com uma publicação no blogue oficial da Microsoft relativamente a regulamentos para a próxima geração de lojas e aplicações. Foi anunciado, na altura, um conjunto de novos princípios a aplicar na Microsoft Store, Windows e outros mercados, denominado de Open App Store Principles.
No dia 18 de Outubro, a Microsoft enviou um documento de resposta à CMA, onde aponta o investimento no mercado mobile como o principal interesse na compra da Activision Blizzard. Assim acabou por revelar, publicamente, uma parte da sua estratégia, mencionando também o Open App Store Principles.
A transacção irá melhorar a habilidade da Microsoft criar a loja de jogos de próxima geração que opera numa variedade de dispositivos, incluindo mobile, como resultado da adição do conteúdo Activision Blizzard. Construindo nas comunidades de jogadores existentes da Activision Blizzard, a Xbox procurará escalar a Loja Xbox ao mobile, atraindo jogadores a uma nova Plataforma Xbox Mobile. Movendo os consumidores fora da Google Play Store e App Store em dispositivos móveis irá, contudo, requerer uma grande mudança no comportamento do consumidor. A Microsoft espera que ao oferecer conteúdo bem conhecido e popular, os jogadores fiquem mais inclinados a experimentar algo novo.
Resposta da Microsoft à decisão da Fase 1 do processo (Página 7 de 33, alínea 2.6 (d))
A Activision tem “Call of Duty: Mobile”, e a King criou “Candy Crush Saga”. Estes são exemplos favoráveis para suportar o argumento, sendo ambos alguns dos títulos mais populares.
Mas a corrida ao mobile da parte da Microsoft não começou com os jogos. O investimento no Xbox Cloud Gaming é visto desde as parcerias com diferentes marcas (Razer, Logitech, …) na criação de periféricos; à garantia que os serviços Xbox chegam ao Steam Deck; passando ainda pela chegada da Xbox App às televisões Samsung. A aposta na ideia de que se possa jogar em qualquer dispositivo electrónico parece guiar os motivos do departamento de gaming da Microsoft. Já não seria a primeira vez que assistíamos a vídeos de jogadores a experimentar Xbox em frigoríficos ou num Tesla, por exemplo.
À Xbox, só parece faltar experiência de mercado.
Actualmente a Microsoft não tem presença no mobile gaming e a transacção irá trazer especialidade muito necessitada em desenvolvimento, marketing e publicidade de jogos mobile. A Activision Blizzard será capaz de contribuir com a sua aprendizagem de desenvolver e publicar jogos mobile aos Xbox Game Studios.
Resposta da Microsoft à decisão da Fase 1 do processo (Página 6 de 33, alínea 2.6 (a))
A UTILIDADE DO METAVERSO
Quanto ao metaverso, Spencer mostra o seu cepticismo em relação ao conceito, que tem sido liderado pela Meta (Facebook). O jogador que começou na Microsoft como um simples estagiário, não partilha da mesma visão e afirma: “Quero algo que seja envolvente. Penso que irá acabar por se parecer mais com videojogos do que alguns modelos que vejo do metaverso hoje“, chegando a descrevê-la como um “videojogo mal construído“.
Esta posição parece ser partilhada por outras personalidades, como Evan Spiegel (CEO da Snap), Greg Joswiak (Marketing Mundial da Apple), ou Bob Chapek (CEO da Disney). A ideia de viver num computador ou realidade virtual não parece agradar à maioria. Mas Spencer ainda acha que é uma questão de tempo: “Eu só acho que estamos adiantados.“
O SUCESSO DO XBOX GAME PASS
Já o formato de serviço de aluguer de videojogos parece ter vindo no momento certo, marcando o território para outros concorrentes imitarem. O CEO da Microsoft Gaming assegurou que o Xbox Game Pass é lucrativo, representando cerca de 15% das receitas dos serviços Xbox. Não acha, no entanto, que haja um futuro onde este valor possa representar 50-70%, pois o crescimento na consola tem abrandado.
Isto não se deverá a um motivo propriamente negativo, mas pura e simplesmente porque a Microsoft já terá chegado ao número de pessoas interessadas no serviço na consola, de acordo com Phil Spencer. No PC, em contrapartida, os números estão a aumentar, com uma subida de 159% ano a ano.
SUBIDA DE PREÇOS?
Face à actual inflação, e com a subida de preços das consolas PlayStation 5, a possibilidade da Microsoft fazer o mesmo com os seus produtos e serviços também foi discutida na WSJ Tech Live.
Parece que, apesar da Xbox e Nintendo terem garantido que não tencionavam aumentar os preços das respectivas consolas, o chefe da primeira não descarta a hipótese num futuro próximo.
Mantivemos o preço na nossa consola, mantivemos o preço nos jogos e na nossa subscrição. Não acho que consigamos fazer isso para sempre. Penso que a alguma altura teremos de aumentar alguns preços em algumas coisas, mas entrando nas festas achámos que era muito importante que mantenhamos os preços que temos.
Phil Spencer
PROJECTO KEYSTONE
Os internautas mais atentos já deverão ter visto uma imagem da famosa prateleira do tio Phil, que veio a público há umas semanas. Os olhos mais atentos repararam no que parecia ser uma caixa Xbox mais pequena do que a Series S. Este objecto é, efectivamente, um protótipo do Project Keystone, uma futura consola Xbox de streaming.
Aqueles que estão desejosos de a conhecer terão de esperar um pouco mais. Spencer revelou que esta ideia, que seria algo ao estilo de Google Stadia ou Amazon Luna, não é algo certo e poderá demorar anos a chegar.
Iremos fazer um dispositivo de streaming a determinada altura? Suspeito que iremos, mas acho que está a anos de distância.
Phil Spencer
O líder da divisão Xbox teve muito a revelar numa só Quarta-Feira, deixando, certamente, muito para ocupar as cabeças dos leitores.