Two Point Campus – Review

Portanto, ouviste falar no “Two Point Campus”, seja porque já segues os criadores de “Two Point Hospital“, ou porque viste o teu streamer favorito passar umas horas na nova sensação do Game Pass. E agora perguntas-te “Mas o que é isto? Vale a pena? Em que se compara com TPH?”

Aqui a cuja que passou centenas de horas em criança, adolescente e até adulta no jogo da Bullfrog de 1997 (“Theme Hospital” para os distraídos), acompanhou o anúncio do seu sucessor espiritual “Two Point Hospital” em 2018 com muito entusiasmo, comprou o dito para Steam, saltou para a Xbox One quando teve a oportunidade de analisar o jogo e teve a sorte de ser presenteada pela SEGA para experimentar a sequela que, caso não tenhas ainda percebido, se chama “Two Point Campus”.

Os jogos da Two Point Studios consistem em aventuras caricatas de gestão de instituições de saúde ou de ensino, prestando homenagem ao humor semi-negro dos jogos da Bullfrog (e liderado por veteranos desta empresa que desapareceu em 2001!). Afinal, a fórmula para conseguir um jogo de simulação e gestão aos padrões da Bullfrog é simples: temas inventados (doenças maradas num, cursos estranhos no outro), máquinas exuberantes e duvidosas, humor sádico e uma announcer sarcástica. A equipa do Two Point Studios replicou isto de forma espectacular em 2018: imitando muitos dos sistemas de jogabilidade, optando por um estilo visual também cómico cheio de animações requintadas, colocando música que fica a tocar no cérebro quando tens insónias e usando o nome de “Theme Hospital” e da Bullfrog para publicitar o seu trabalho – e com razão!

“Two Point Campus” © Two Point Studios | Autoria: Catarina Ferreira

Já aquando o lançamento do “Two Point Hospital”, o estúdio tinha demonstrado a sua intenção em continuar a criar novos jogos do género, todos com o local fictício de Two Point County em comum. Em 2019, a SEGA achou por bem adicionar Two Point Studios ao seu portfólio e aqui estamos nós para ver a criatividade da equipa a florescer com o seu primeiro “Two Point Campus”.

Já se perderam em tanto Two Point? Não se diz que quem conta um conto acrescenta um ponto? Eu também estou estonteada com tantos… Devo precisar de ir ao médico em breve. Só espero não ser nada de grave. *gulp*

Em “Two Point Campus” voltamos a Two Point County, a zona pitoresca cheia de doenças que todos devemos evitar, e cursos que… bom. Não sei se devemos desejar! Não se perde muito tempo para entrar logo na primeira universidade e começarmos a tomar apontamentos sobre o que se deve fazer (ou, como alguns fazem, deixar entrar a matéria na hora). Sem dúvida que este jogo dá mais a sensação de introduzir coisas novas de forma significativa a cada nível que completamos. Cada universidade acaba por ter o seu tema. Alguns jovens estudantes poderão aprender sobre as grandes questões da física através de Cientografia, outros deverão envergar pela capacidade de puxar o corpo ao limite no Exercício Académico, e os mais apaixonados pelo oculto irão desenvolver as suas capacidades mágicas nas Artes Negras. Enfim, o que não faltam são formas de explorar os diversos talentos da comunidade jovem de Two Point County, que conta com 17 cursos por onde escolher.

Two Point Campus
“Two Point Campus” © Two Point Studios | Autoria: Catarina Ferreira

Há um role imenso de actividades em “Two Point Campus”, mas acaba por ser um jogo bem mais acessível do que o seu antecessor. Enquanto que em “Two Point Hospital” a determinada altura começamos a entrar em pânico pela quantidade de pessoal a pedir aumentos, os terramotos que insistem em estragar as máquinas caríssimas e uma economia muito punitiva para dar a volta a isto tudo, na universidade a jogabilidade é bem mais tranquila.

Uma das primeiras vantagens que se pode utilizar é a pausa entre os anos. Em quase todos os níveis nos hospitais, temos sempre um fluxo constante de pacientes a chegar, o que dificulta muito a nossa capacidade de gestão. Mas a vida universitária é serena. O próximo ano só começa quando quisermos e nos sentirmos preparados – sem esquecer os requisitos mínimos para ter salas e corpo docente suficiente para receber os alunos. Isto dá oportunidade para não só respirar como preparar o próximo ano! Férias para eles, e um pouco também para nós. Esta fase é ainda equilibrada, porque o dinheiro só entra quando os estudantes chegam para pagar as propinas. Queriam férias para sempre, não? Ah!

Efectivamente, “Two Point Campus” acaba por ser um upgrade do “Hospital” no que toca a termos mais técnicos. Quem já conhece o ambiente, certamente saberá voltar à carga e ficará agradavelmente surpreendido com as melhorias: a possibilidade de colocar portas e janelas no meio de dois quadrados (podendo ser simétrico para aqueles com algum índice de TOC); a construção do próprio edifício em cada espaço novo comprado; e a colocação e personalização do exterior. O polo universitário traz coisas que até gostaria de ver implementadas no caos dos hospitais. No entanto, algumas das novidades parecem não ter o seu potencial realmente explorado. As divisões que podemos utilizar para criar zonas diferentes no espaço podiam, por exemplo, ser utilizadas para colocar objectos de parede.

Two Point Campus
“Two Point Campus” © Two Point Studios | Autoria: Catarina Ferreira

Mas no que toca à jogabilidade em si, uma das grandes dificuldades será o tamanho mínimo de cada sala de aula prática. Isto pode tornar-se um pouco irritante, especialmente nas universidades onde as áreas disponíveis para compra são pequenas. É aqui que, pelo menos para mim, a opção de comprar terreno sem construção se torna norma, de forma a colocar edificações maiores capazes de levar com dois Auditórios, dois Laboratórios de Ciências e uma Cozinha Saborosa. O problema acaba por aumentar quando noutros cursos temos de colocar zonas de aprendizagem no exterior. Por vezes não há tanta liberdade para a criatividade, mas com um empréstimo aqui e ali, a coisa torna-se exequível.

O foco de “Two Point Campus” pendura-se mais do lado dos estudantes do que dos docentes. É a criançada que faz as exigências desta vez e, acreditem, nunca estão satisfeitos! Aliás, parece-me que são demasiado mimados. Quando estudei, eram 3000€ por ano e não tinha direito sequer a uma casa de banho funcional. Mas a miudagem quer bancos; locais para criar amizades e desenvolver romances; arcadas para jogar “Crazy Taxi”; lounge estudantil; concertos privados; matraquilhos. Realmente, os jogos da Bullfrog também não eram realistas, portanto porque raios os da Two Point Studios haveriam de ser diferentes?

Mas são estes pedidos que vão dando graça ao jogo e oferecendo sempre algo para jogar em vez de nos focarmos somente em melhorar máquinas, aumentar a universidade, arranjar formas de subir as notas e cumprir os requisitos para alcançar as 3 estrelas. Felizmente, ao contrário de “Two Point Hospital”, a sequela não parece centrar-se tanto em objectivos que obrigam a marrar até chegar lá. Era o que por vezes tornava algumas dessas 3 estrelas penosas. Aliás, alguns dos pontos vão diferenciando. Não se trata sempre do mesmo: ganhar um X por mês, ou ter Y estudantes com nota A.

Two Point Campus
“Two Point Campus” © Two Point Studios | Autoria: Catarina Ferreira

Cada universidade acaba por ter actividades diferentes consoante o seu tema principal. Por exemplo, na segunda metade do jogo temos atletas a praticar a verdadeira arte de atirar queijos (agora bem suíços), num campo que lembra o Quidditch + leite fermentado + raladores. Um objectivo pode passar por derrotar as diferentes equipas em partidas de Bola de Queijo, por exemplo, criando aquela competição amigável entre as instituições de ensino.

E já agora, ficaram confusos com a conversa de chulé? Então tentem ver a animação quando organizarem eventos para competir com as outras escolas. É somente uma das mais curiosas, um belo exemplo do cuidado que toda a equipa da Two Point Studios coloca nos mais ínfimos pormenores. É uma das coisas que tornou “Two Point Hospital” especial, assegurando a sua sequela com o mesmo carimbo de devs que têm amor ao que fazem (e liberdade para o fazer). Esta atenção ao detalhe pode ser observada de novo quando, por exemplo, vemos a informação do curso de História da Internet e nos deparamos com o trocadilho da cadeira do 3º ano: “Viruses and Virality: Does Snot Compute?” É este tipo de coisa que cimenta a ideia de que o estúdio adora o que está a fazer.

A diferença de dificuldade de um jogo para o outro deverá passar por uma explicação simples: gerir um hospital é bem mais complicado do que gerir uma universidade. A Two Point Studios, no entanto, exagerava um bocado com as constantes desgraças naturais em “Hospital”, sendo bem mais simpática no “Campus”. Temos sim, algumas tempestades e fenómenos sobrenaturais, sem afectar demasiado a nossa performance ao ponto de perdermos o fio à meada. Aliás, sem tanto foco no staff, este tem muito mais autonomia e não requer a nossa constante preocupação. Felizmente, dá para estabelecer na mesma prioridades a cada um, embora esteja num espaço bem mais escondido que só encontrei no 5º nível ao fim de 24 horas de jogo. E digo felizmente, porque por vezes isto torna-se necessário, especialmente se quisermos alguma investigação feita por docentes que passam a vida a dar aulas.

Two Point Campus
“Two Point Campus” © Two Point Studios | Autoria: Catarina Ferreira

E temos tanto, tanto para fazer em “Two Point Campus”! O jogo tem uma diversidade de objectos, actividades, e conteúdo. Não há aquela sensação de acabar por fazer sempre a mesma coisa em todas as universidades, uma vez que cada uma tem um conjunto de novidades. É uma forma inteligente de garantir que os jogadores não ficam saturados ao repetir sempre as mesmas tarefas. E mesmo no que toca à resolução de problemas, não faltam opções.

Há várias formas de melhorar as notas: colocar as salas necessárias para garantir que os estudantes dormem, limpam-se e divertem-se; investigar melhorias para as máquinas e actualizá-las; ou treinar o corpo docente. O processo de treino é mais lógico, agora que as especialidades de cada docente podem ser melhoradas sem ocupar espaço que pode ser utilizado para aprenderem outras coisas.

Na verdade, os únicos defeitos de “Two Point Campus” passam por pequenas coisas, como bugs visuais (onde as plantas dão uma de meme da Bethesda), ou alguns de gameplay que começaram a ser resolvidos em patches desde que o jogo lançou. Como alguém que teve flashbacks da construção e decoração de casas em “The Sims 3”, as opções de personalização de papéis de parede, pisos ou objectos podiam ser mais investidas num futuro próximo. Reduzem-se a três possibilidades na maioria dos casos. Mas não há nada que faça esquecer que, num ano um pouco seco de títulos que o marquem, esta aventura é praticamente perfeita.

Two Point Campus
“Two Point Campus” © Two Point Studios | Autoria: Catarina Ferreira

E, embora para a minha experiência pessoal não faça diferença, está na altura do Two Point Studios começar a pensar em levar a acessibilidade a sério. O jogo quase não tem opções que ajudem a configurar a interface de jogador, não tem qualquer ajuda para diversas condições físicas ou mentais dos jogadores que vejam a sua jogabilidade dificultada. Aliás, uso legendas e estas nem sempre aparecem… São coisas que espero ver corrigidas e melhoradas nos próximos tempos. Infelizmente, não sendo norma, ainda são poucos os estúdios que se preocupam em tornar os seus jogos mais acessíveis.

Em suma, e no seu núcleo de jogo, “Two Point Campus” dá a sensação de que tudo foi ponderado e estudado ao máximo. O trabalho de casa foi muito bem feito pela equipa da Two Point Studios, tendo entregado um projecto muito completo com horas de diversão para oferecer e até algum tempo de vício saudável. É ainda um bom jogo de gestão para todos os níveis de escolaridade, o que assegura que o mundo de Two Point County é para continuar. E cá estaremos para o próximo! Mas, por favor. Tragam-me “Two Point Park”. Please? *.* Sério… Quero mesmo o vosso sucessor de “Theme Park” e “Sim Theme Park”/”Theme Park World”. A vossa próxima nota será influenciada por isto. Foram avisados.

“Two Point Campus” passou o ano 2022 com distinção.


PRÓS

  • Várias melhorias face a “Two Point Hospital”;
  • Jogabilidade desafiante, mas equilibrada;
  • Imenso conteúdo para desbloquear;
  • Sensação de progresso e novidade constante;
  • Sem qualquer problema de performance na Xbox Series X;
  • Banda sonora para as insónias durarem.

CONTRAS

  • Alguns bugs que frustram a vista ou o gameplay;
  • Opções de customização podiam ser exploradas;
  • Não é um “Two Point Park” ainda. Está mal.

| Título | Two Point Campus
| Plataformas | Xbox Series X|S, Xbox One, PlayStation 5, PlayStation 4, Nintendo Switch e PC
| Género | Estratégia, Gestão, Simulação
| Estúdio | Two Point Studios
| Publicadora | SEGA Europe Ltd
| Preço | 39,99€
Site Oficial

REVIEW Face - A não perder

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9.5/10


Código de review foi providenciado pela SEGA
Foi utilizada uma Xbox Series X e TV LG OLED 4K para esta review

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