A compra da Activision Blizzard por parte da Microsoft foi anunciada no início de 2022 e, tal como a aquisição da Bethesda, é um processo que se desenrola por meses e é aprovado por diferentes entidades regulatórias no mundo para garantir que não está a ser construído um monopólio. Uma parte desta jornada parece correr a alta velocidade, mas a mais recente notícia vem dum olhar atento no Resetera, que revela que a Sony tem bastantes reservas e preocupações em relação a este negócio, nomeadamente, o futuro de Call of Duty e a rivalidade com o Xbox Game Pass.
Esta mudança tem de ser aprovada não só pela Federal Trade Commission (FTC) ou European Commission, mas também tem de passar por reguladores do Japão, Reino Unido, Austrália, China e Brasil. O processo de análise deste último começou a 20 de Maio, e é natural que os reguladores peçam a opinião de terceiros sobre a transacção em questão.
A Administração Pública do Brasil tem uma postura de transparência, pelo que todo este processo pode ser consultado online (fora algumas partes confidenciais), incluindo as questões colocadas aos órgãos terceiros, que incluem respostas da Warner Bros, Ubisoft, Apple, Google e Amazon. No entanto, enquanto que a maioria parece ter uma posição neutra (ou desconhecida ao público pela sua confidencialidade), a Sony aparenta demonstrar algumas preocupações. A empresa japonesa terá receio que o negócio bloqueie conteúdo noutras plataformas, mencionando o franchise Call of Duty.
Os documentos estão, claro, em português, portanto consultável facilmente pelos nossos leitores.
Algumas destas questões referem-se à importância do Xbox Game Pass e de qualquer propriedade intelectual da Activision Blizzard, bem como o impacto que este negócio terá na indústria, especialmente a nível de competição entre empresas.
Uma das questões que parece levantar diferenças refere-se aos títulos da Activision Blizzard que poderão não ter concorrentes directos. Aqui, a Ubisoft assegura que tal conceito é inexistente:
Não, não existe tal título de videogame que não tenha competição próxima, todas as editoras e todos os jogos competem pelo tempo de jogo disponível, e nenhum título está sozinho em seu gênero de jogo.
Resposta da Ubisoft Brasil (Página 8 de 22)
O grupo francês dá ainda exemplos. Battlefield, “PUBG” e “Apex Legends” são vistos como concorrentes de Call of Duty; “Elder Scrolls Online” e “Blade & Soul” como alternativas a “World of Warcraft”; e defende que existem imensas opções semelhantes a “Candy Crush” nos dispositivos móveis.
A Google pega em “Halo Infinite”, “Battlefield 2042”, “Tom Clancy’s Rainbow Six Siege” e “Counter Strike: Global Offensive” como exemplos de shooters que rivalizam com a PI da Activision.
Já a Sony demonstra o quanto Call of Duty é uma propriedade importante para as consolas PlayStation.
O Call of Duty da Activision é um jogo essencial: um “blockbuster”, um jogo do tipo AAA que não tem rival. (…) Call of Duty é tão popular que influencia a escolha do console pelos usuários e sua rede de usuários fiéis é tão arraigada que, mesmo que um concorrente tivesse orçamento para desenvolver um produto semelhante, não seria capaz de rivalizar.
Resposta da Sony Interactive Entertainment Brasil (Página 9 de 34)
As declarações não param por aí. A Sony acrescenta ainda que Call of Duty é “sinónimo de jogos de tiro em primeira pessoa e essencialmente define essa categoria.” A empresa usa ainda números de vendas e seguidores para defender a importância do franchise na indústria.
Embora a Microsoft tenha declarado que não tenciona tornar Call of Duty exclusivo, os jogos da PI têm movido jogadores, que durante anos tiveram conteúdo exclusivo nas PlayStation. É, aliás, uma das marcas que mais rende às consolas da Sony. Na página 26 e 27 do documento, a empresa revela que os títulos da Activision – e Call of Duty em especial – “representam um importante fluxo de receita para o PlayStation“, e acrescenta que “Call of Duty: Modern Warfare” estabeleceu um recorde para o maior número de pré-encomendas digitais na PlayStation Store em 2019. Efectivamente, os jogos da franquia Call of Duty representam uma das maiores fontes de receita da Sony vinda de terceiros. Foi com esta declaração que a empresa terminou a resposta na alínea 35.2., na página 27.
Outro ponto que chamará a atenção de alguns jogadores será relativamente ao Xbox Game Pass. Uma das questões colocadas neste processo refere-se ao tempo necessário para criar um rival para este serviço. No entanto, apesar do recente lançamento das subscrições PlayStation Plus Essential, Extra e Premium, a Sony considera que “levaria vários anos para um concorrente – mesmo com investimentos substanciais – criar um rival efetivo para o Game Pass.“
Será que Call of Duty é uma PI com tanta importância? O que pensas das declarações da Sony acerca desta aquisição? Entretanto, podes também consultar a resposta da Microsoft.