O que são NFTs e Play-to-Earn games?

Já há muitos anos vivemos a tão falada “revolução do Crypto Coin”, as famosas criptomoedas que deixaram uns ricos e outros pobres, encareceu as VGAs e está deixando o planeta mais quente. Se você ainda não sabe o que são, saiba já que “Uma criptomoeda ou ciber moeda é um meio de troca, podendo ser centralizado ou descentralizado que se utiliza da tecnologia de blockchain e da criptografia para assegurar a validade das transações e a criação de novas unidades da moeda” de acordo com a Wikipédia

Não entendeu? Em outras palavras, uma criptomoeda é uma moeda virtual cuja validade é assegurada através de uma base de dados distribuída à prova de violações. O seu lastro em geral é especulativo, ou seja, virtual e dependente do interesse do mercado na própria moeda. 

Por que isso é importante? Fique comigo, leia o resto e vai começar a entender.

NFTs, ou Non Fungible Tokens, são itens que não podem ser substituídos ou trocados por outro igual. São itens “únicos”, e os NFTs dão ao proprietário do Token uma espécie de “certificado de propriedade” que pode ser publicamente verificado na blockchain. Dinheiro é algo fungível. Você pode trocar uma nota de 10 euros por outra igual de 10 euros em qualquer lugar, por exemplo. Já, a Mona Lisa de Da Vinci não pode ser trocada por uma cópia, pois uma cópia certamente não terá o mesmo valor que a original. Assim sendo, não é fungível. A cópia não vale quase nada e o original vale muito.

Outro exemplo de NFT que posso dar é uma das milhares de variações do mesmo Bored Ape que cansamos de ver e que estão nos enfiando pela garganta abaixo todos os dias em todos os lugares. Alguém pagou para ter o registo de cada uma destas variações, é a única proprietária e com certeza não se preocupa com a renda no final do mês: o preço médio é de 127 mil dólares americanos por cada um.

E qual é seu uso no que nos interessa?

Em jogos, há diversos usos possíveis. Você poderia talvez ter a posse daquele “Pokémon” que fez breeding por 2 meses, que tem status absurdos e pode ter no move set Psystrike e Confusion mesmo sendo um dragão de fogo. Ou talvez você consiga fazer o crafting da espada Excalibur com status maximizados e efeito único de congelar. Esses itens serão únicos e, se os títulos permitirem, poderá vendê-los por dinheiro real ou trocá-los por aquilo que quiser com outros jogadores, ou mesmo não jogadores em marketplaces externos como o Decentraland, para terrenos virtuais ou o Immutable X para itens diversos de jogos. 

Em outras palavras, NFT é um modo de criar escassez virtual de um item que não necessariamente seria escasso, validando-o num ambiente externo inviolável. No caso dos “Bored Apes”, é fácil de entender o porquê da escassez de propriedade não ter muito sentido (tire um screenshot deles ou guarde a imagem, não tenha pena). Entretanto, em jogos isso pode gerar oportunidades que Square Enix, Ubisoft e todas as grandes empresas da indústria já estão investigando e procurando uma maneira de aproveitar.

Não pense que, por eles estarem investigando, as outras empresas do mercado estão esperando. Já existem jogos Play to Earn que utilizam NFTs como forma de criar itens únicos para os jogadores dando a estes a possibilidade de ganhar dinheiro enquanto jogam. Sim, ganhar dinheiro, seja através da fabricação de itens únicos, breeding, compra e venda de lotes, entre outros. Há algumas oportunidades interessantes que não são exatamente tão frágeis quanto um JPEG de um macaco sem graça. Ainda assim, tudo isso é possível sem precisar de NFTs.

Desenvolvedores experientes e que conhecem o mercado de itens discordam da necessidade de NFTs. A realidade é que os sonhos mais criativos dos defensores de NFTs em jogos se baseiam no próprio desconhecimento de como estes funcionam. Alguns acreditam que com NFTs teremos a propriedade de itens que poderiam ser levados de um jogo para outro como, por exemplo, uma skin de “Call of Duty: Modern Warfare” que poderia ser utilizada no “Battlefield 2042”. Ou sugerem ainda a possibilidade ainda de vender este item para alguém que nem sequer tem uma conta no jogo, dando assim “asas” a um NFT que ficaria fora de jogo até que essa pessoa o vendesse para alguém. Já explico o porque leva um ítem de um jogo para o outro não é exatamente factível, mas retirar um ítem de jogo apenas para esperar ele valorizar é uma grande maldade, não acham? Ah, o poder da especulação…

Escassez, produtos limitados e raridade artificial

A escassez artificial de itens é algo que já existe há décadas e já foi testada em diversos jogos de incontáveis maneiras diferentes. Praticamente todo jogo com micro-transações faz isso de certa forma, só não exigindo autenticação num sistema externo de blockchain para tal. Em “Mechwarrior Onliner”, por exemplo, já foram vendidas armaduras de ouro para jogadores por 500$. Naturalmente, as consequências imediatas disso foram que, ao avistar um jogador com um robô de ouro, este virava o alvo prioritário de todos em qualquer partida. Eat the rich! 

Em “Diablo III” havia o mercado de leilões na versão PC, que dava aos jogadores a oportunidade de vender os seus itens em leilões ou venda direta, seja por Gold, obtível em jogo, ou através de dinheiro real, podendo pagar e receber através de Paypal. A ideia era boa, pois era uma forma de evitar que jogadores fossem enganados em marketplaces externos e que perdessem as suas contas, mas acabou por se tornar um pequeno inferno: rapidamente os jogadores compraram os melhores loots, afetando o objectivo principal de “Diablo”, que era justamente JOGAR para os obter. A Casa de Leilões foi removida assim como a troca de itens entre jogadores, e depois houve a reformulação do sistema de loots em “Reaper of Souls” que enterrou essa ideia para sempre. 

Qual foi o real problema? “Diablo III” é um excelente e divertido título, mas a Casa de Leilões tirou parte daquilo que todo jogo precisa fazer de melhor, que é dar a sensação de recompensa aos jogadores por obter algo inestimável (ou conseguir um feito incrível, dependendo do jogo), pois tudo poderia ser facilmente comprado na Casa de Leilões por dinheiro real. O sistema de loots, por melhor que fosse, não conseguiu acompanhar o mercado. Qual é a satisfação de conseguir a Armadura Divina de Pégaso se qualquer um pode comprar uma versão dela por 200 dólares americanos? O status incrível poderia ser até escolhido se procurasse com afinco na Casa de Leilões e, assim sendo, o desafio e sensação de vitória perdiam a sua força ao conseguir algo realmente jogando. 

Jogos diferentes com os mesmos itens? É até possível, se fizerem parte do mesmo ambiente, empresa, ou forem pensados em conjunto desde a pré-produção para funcionarem assim. A Nintendo e a Microsoft fizeram isso

massivamente com os Mii e os avatares Xbox, dando aos desenvolvedores livre uso nos seus jogos, sem precisar usar NFT para tal.

Meu avatar versão 1.0 no Xbox 360, que coisa linda.

Em outras palavras, para um ítem NFT de um jogo funcionar em outro, ambos os jogos deveriam ser planejados, produzidos e desenvolvidos com isso em mente, utilizando o mesmo tipo de assets, os mesmos truques de câmera, a mesma engine, etc. 

Comentários sobre alguns Play to Earn do mercado

“Bomb Crypto” pode ser descrito como um simulador de “Bomberman”, em que o único objetivo é fazer dinheiro, não se divertir. Acredite, é possível fazer um BOM dinheiro neste título, entretanto não quer dizer que seja algo que vá acontecer. Para jogar é preciso comprar o seu primeiro personagem inicial, que será aleatório e com grandes chances de ser ruim, que ficará explodindo caixas espalhadas pelo cenário para conseguir moedas até parar para descansar. É isso, esse é o jogo. Lembrando que o título só funciona enquanto você estiver olhando para ele, ou seja, é preciso deixar a aba do navegador aberta. Com o tempo, vai ter moedas o bastante para comprar outras oportunidades de conseguir outros heróis aleatoriamente e assim sucessivamente, até talvez conseguir um bom ou incrível, que é quando o dinheiro realmente começa a ser feito. Ao invés de comprar chances de conseguir outro herói, também pode trocar o valor recebido por outra criptomoeda e assim conseguir parte do investimento de volta.

©Bomb Crypto

Quem já estudou programação de jogos vai perceber que ele é um dos primeiros jogos que aprendemos a fazer: é basicamente um Bomberman que se joga sozinho. Numa análise bem crítica, e aí é só a minha opinião neste artigo já bem recheado delas, ele foi feito unicamente para conseguir fazer o máximo de dinheiro para os proprietários o mais rápido possível e então “falir”, e não seria a 1º vez. Não existe nenhum “fator diversão” envolvido, não há recompensa a não ser dar a sorte de conseguir um herói lendário ou super lendário (que você pode interpretar como ganhar na loteria). Há mecânicas complementares, entretanto nada que valha o esforço de explicar. Em outras palavras, não encare “Bomb Crypto” como um jogo, mas como um investimento e um trabalho. Ele PODE render um bom dinheiro, mas para isso é preciso sorte e investir bastante tempo e dinheiro nele. Diversão? Só quando aparecer um super lendário na sua vida. Nesse momento sim, pode rir à toa. Só não se esqueça: Ele também pode render unicamente GRANDES prejuízos e você só ganhar dor de cabeça no processo.

Existem também outros exemplos que têm valor real como jogos. 

“Axie Infinity é fortemente inspirado em “Pokémon”, um jogo onde o jogador obtém Axies (os monstrinhos) e pode trocá-los por Ethereum (a 2º mais famosa Crypto Moeda no mercado), fazer breeding, lutar contra outros Axies, correr, ou trocá-los por outros Axies no marketplace. O título tem uma jogabilidade profunda, que mistura “Pokémon” com “Hearthstone”, onde cada Axie tem um set de cartas que são embaralhadas durante um combate, podendo ser usada uma por turno. Além disso, é possível comprar lotes que podem ser utilizados para mineração, obter itens, batalhas pPvE, chegar a dungeons, etc. Interessado nisso? Abaixo estão as últimas terras compradas:

marketplace.axieinfinity.com/

Baratinho não acha? Não se preocupe, não é obrigatório, só precisa dos Axies. Estes podem ser comprados por 1 a até por mais de 2 milhões de dólares. Muita gente que nem sequer joga é proprietária de alguns dos terrenos, incluindo empresas, que já gastaram um bom dinheiro ali. Melhor dizendo, desperdiçaram, pois “Axie Infinity” está passando por uma terrível turbulência com grandes perdas e prejuízos para milhares de pessoas.

Gods Unchained” é outro a que deves ficar atento. Feito por uma equipa composta por vários membros envolvidos no desenvolvimento de “Magic: The Gathering”, este título de cartas online não só parece que veio para ficar, como pode se tornar uma parte importante dos e-sport em breve.

Em “GU”, é preciso montar um deck de 30 cartas e vencer os oponentes utilizando uma mecânica que envolve poderes de cada um dos deuses (cada deck podendo ter um), além de também compartilhar algumas cartas por partida com o seu oponente. Apesar de ter sido lançado somente há alguns anos, já há várias coleções de cartas estabilizadas, ou seja, que não sofrerão nenhuma modificação e que valorizam com o passar do tempo.

gu.cards/market

Para ter noção, multiplique os valores acima por 2,100 euros. É por aí o valor de cada Ethereum no momento que digito este artigo.

“Gods Unchained” pode ser jogado gratuitamente, mas as cartas são horríveis e servem mesmo só como uma introdução ao jogo. As cartas você obtém comprando em pacotes aleatoriamente, podendo vir algo bom ou ruim.

O mesmo que em “Magic The Gathering”, mas com um fator externo incluso (o blockchain) para garantir a propriedade das cartas para qualquer um, mesmo que fora do jogo. O único motivo que eu vejo para alguém que não joga comprar as cartas é especulação, não sei em que parte isso é benéfico para os jogadores, mas enfim… O meu “Magic – The Gathering” continua intacto.

Em qualquer caso, títulos Play to Earn exigem estudo, sorte e paciência. Caso tenha muita sorte pode gastar o seu primeiro “tiro” em “Crypto Bomb” e conseguir um herói super lendário, que fabrica mais de 100 dólares por dia em valor tangível. Pode também dar azar e conseguir um herói que faz o mesmo em várias semanas ou mesmo meses. Pode conseguir um Axie horrível e fazer maus negócios, ou dar sorte e no breeding fazer pequenas fortunas a médio prazo. De qualquer modo, talvez nem nunca recupere o investimento e é por isso que precisa ter em mente: não é nunca algo certo. Lembre-se do custo da energia, do tempo perdido e dos custos envolvidos. O mercado das criptomoedas é extremamente volátil e é possível ter um prejuízo que pode não ser capaz de recuperar. A Ethereum, por exemplo, perdeu metade do seu valor de mercado desde dezembro de 2021, ainda mal começou 2022, e ela não está sozinha nesta queda.

Se interessou mesmo? Estude o assunto, esse artigo não explica tudo, pois é só um resumo voltado apenas para jogos. NÃO JOGUE O SEU DINHEIRO NA TELA! Lembre-se que o valor é sempre especulativo, varia de acordo com incontáveis variáveis e você pode perder muito de um dia para o outro. Se informe bastante antes de fazer o seu 1º movimento e boa sorte! Vai precisar.

E antes de ir, veja a opinião do Sonic sobre o assunto:

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