Quem já leu algumas das minhas reviews do passado, especialmente na altura dos Xbox PT Dummies, certamente não estranhará que tenha sido eu a responsável por mais uma análise dum jogo LEGO. Este título da ClockStone Studio, no entanto, em pouco se assemelha aos jogos da TT Games, que nos presenteiam com histórias únicas ou baseadas em filmes e séries. “LEGO Star Wars: The Skywalker Saga” ocupou-me algumas horas em stream (ao qual não voltei ainda por muita vergonha que tenha…) e foi o mais recente lançamento. Já “LEGO DC Super-Villains” foi um jogo que tive muito orgulho de analisar em 2018, demonstrando a nova geração de jogos LEGO da TT Games.
Mas este, este é um pouco diferente. O estúdio apresenta uma simples (até demais) história de fantasia: o nosso avô é um génio, mas precisa de ajuda para reparar o parque de diversões antes que o fechem! Felizmente, a sua genialidade trouxe um robô afável e amigável que nos acompanha nas viagens a seis diferentes mundos, para coleccionar os cristais de felicidade necessários para reparar as atracções do parque.
Se uma procura por um público mais jovem fazia parte dos planos, vale lembrar que isso não é sinónimo de narrativas simplórias e desinteressantes. O nosso personagem pode ser personalizado com poucas opções de escolha, e não se cria um vínculo nem com este boneco amarelo, nem com o avô. Talvez mais depressa se consegue ganhar afeição pelo Rusty, o nosso fiel companheiro. Há indícios de carácter distinto noutros NPCs aqui e ali, mas nada que se destaque.
A premissa, portanto, não desenvolve nada por aí além, servindo um fraco motivo para realmente jogar e avançar. Não há necessariamente nada que nos leve a querer descobrir mais alguma coisa, senão uma tranquila jogabilidade que, apesar de engraçada, também não é memorável.
Não podemos ser irrealistas. Há algo de extremamente satisfatório em pegar nas peças LEGO e colocá-las até um conceito ser materializado. Portanto, os diversos puzzles de construção são bem-vindos e tornam-se facilmente o ponto alto da jogabilidade. Mas por vezes conseguem tornar-se ilógicos, ou constituem um desafio que não será esteticamente apelativo na sua forma final. Na passagem por “LEGO Bricktales”, isto tornou a experiência por vezes decepcionante, por providenciar poucas cópias das peças que queria utilizar, ou não facultar outras que seriam talvez mais adequadas à construção em causa. Tudo isto resultando, grande parte das vezes, em resultados estranhos e até disfuncionais.
O mesmo poderia ser dito dos comandos deste modo, que conseguem ser frustrantes de quando em vez. Talvez eu devesse mas é pegar e comprar uma caixa de LEGO para construir como fazia em criança. Ai, a sensação daqueles pneus pequeninhos a construir carros todos catita! *arregala os olhos*
Bom… Onde é que eu ia? Construções. LEGO. Puzzles… Ah!
“LEGO Bricktales” tem estes momentos onde podemos soltar a nossa criança interior, ou o nosso lado engenheiro. Aliás, para avançar, todas estas construções necessitam de passar por testes específicos, para garantir que nada cai e que, no caso de caminhos, o test dummie consiga chegar ao destino. É sempre uma satisfação pessoal, ou alívio, quando tudo fica bem!
Mas o jogo tem mais para oferecer. Há seis mundos diferentes, cada um com histórias únicas para desvendar e missões a resolver para conseguir aquele cristal de felicidade necessário. Somos apresentados a estes biomas com realidades distintas, às quais chegamos graças a um portal interdimensional.
Em cada um há novas habilidades e personagens, também com as suas histórias para contar. Mais curioso ainda é a quantidade de referências da cultura pop. É um óptimo detalhe aqui apresentado! E por aí espalhados há ainda coleccionáveis para apanhar, um belo petisco para aqueles que gostam de caçar conquistas.
Mas é ao longo desta aventura que se começa a perceber as várias falhas na jogabilidade, ou o desinteresse que parece ter havido em exponenciar as diferentes mecânicas. Está pouco desenvolvida, trazendo um mapa de comandos mal aproveitado e aplicação das habilidades errática. A primeira, uma espécie de ground pound, tem uma área de efeito muito pequena. Quando ligamos o jacto de água, o boneco fica limitado, sem poder girar para ajustar a pontaria do que queremos lavar. Nem sempre a pista que nos revela haver algo escondido parece querer dar de si, obrigando a passar pelos diferentes dioramas até que calhe de a encontrar. E é irritante a quantidade de vezes que queremos entrar num atalho roxo no hoverboard e o jogo não regista o comando como deve ser. A caça dos coleccionáveis, embora acessível para todas as idades, consegue tornar-se frustrante pela quantidade de pequenas falhas que insistem em perturbar a experiência.
E até para seleccionar as diferentes habilidades se torna um castigo. Num comando com tantas possibilidades de mapeamento, “LEGO Bricktales” apresenta botões e gatilhos vazios, quando um deles poderia ser utilizada para, por exemplo, trocar mais rapidamente entre as habilidades sem ter que abrir o menu específico. Que tal usar o LB e RB inutilizados para circular, à semelhança do que se vê na troca rápida de personagens nos jogos da TT Games?
Já o chicote, que aparece sempre em qualquer bioma para apanhar, faz o seu reset quando se sai e volta a entrar no mundo, o que se torna contraproducente quando já terminámos a história e queremos somente explorar. Não seria mais simples tê-lo sempre à cintura após apanhar uma vez? Torna-se imprevisível e confuso.
Nem tudo é mau, certamente, dado que somos presenteados com diversos dioramas cheios de cor, peças LEGO e até alguma vida, nomeadamente nos locais com água, que foi feita (e construída) com animações bastante interessantes e apelativas.
Se “LEGO Bricktales” vale a pena? Diria que depende de cada um. Foi uma experiência engraçada para ocupar algumas horas, curta até para quem procurar apanhar tudo. Não é um título que deixe a sua marca. Tem pouco impacto – não que todos os jogos precisem disso – mas sente-se que este não explorou o seu potencial como deveria. Tem as suas peculiaridades estranhas que divertem, como a quantidade de torcicolos que a nossa personagem faz a cada animal encontrado, a cada cofre aberto e a cada compra feita. Quando se visita a loja local e se entra numa shopping spree, parece a rapariga d”O Exorcista”.
Quanto a mim, para já, prefiro manter-me pelos LEGO a que estou habituada jogar e têm evoluído bastante. Quanto a esta aposta, torço (não o pescoço!) para que haja algo mais ambicioso no futuro.
PRÓS
- Visualmente apelativo;
- Referências engraçadas;
- Amamos o Rusty!
CONTRAS
- Narrativa desinteressante;
- Não explora o seu potencial;
- Can’t pet the cat.
| Título | LEGO Bricktales
| Plataformas | Xbox Series X|S, Xbox One, PlayStation 5, PlayStation 4, Nintendo Switch e PC
| Género | Aventura, Puzzles
| Estúdio | ClockStone Studio
| Publicadora | Thunderful Publishing AB
| Preço | 29,99€
Site Oficial
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