Jogo Cabo das Tormentas personifica o horror português

Não, o projecto dum pequeno grupo de portugueses não é horroroso, é somente uma ode ao horror com um pormenor: inspira-se na história de Portugal! “Cabo das Tormentas” – ou “Cape of Storms” ali para os camones – é um dos títulos que concorre às competições nacionais Indie X e PlayStation Talents deste ano.

Deparei-me com um tweet de Filipe Tomé, outro portuga por esta rede social que tanto tem de caos como potencial escondido, e claro que um falante de língua portuguesa chama sempre à atenção! Em Portugal, há imenso talento por explorar e, à falta de recursos e investimento na cultura e artes (quanto mais em gaming…) é sempre um gosto descobrir estes projectos.

Reza a lenda dos mares, que a Eskimo Studios solicitou a Tomé um conceito dum videojogo inspirado na história de Portugal. Foi aqui que ele buscou inspiração noutros jogos de terror, os Silent Hill, para criar uma versão de horror com elementos portugueses. Esse conceito ganhou novas asas e é hoje o projecto de 4 portugueses na MoonVeil Studios.

ESPREITA O “CABO DAS TORMENTAS”

Fiquei chocado, de uma maneira bastante positiva, com o terror psicológico que cada obra [de Silent Hill] apresentava. Os monstros, as localizações, os sons, a música, traziam um sentimento tão aterrorizante, mas tão satisfatório que fiquei rendido a estas obras. Portanto, pensei para mim… “E se eu conseguisse fazer algo semelhante utilizando história portuguesa?” Depois de alguns rascunhos e propostas, decidi-me envolver com a época dos descobrimentos, mais especificamente, o Adamastor.

Filipe Tomé, Líder Criativo de “Cabo das Tormentas”

Lembram-se de estudar “Os Lusíadas” em Língua Portuguesa? O terrível Adamastor simbolizava e materializava os medos mais profundos da mente dos navegadores portugueses. Em “Cabo das Tormentas”, este conceito do desconhecido e os terrores que nos assombram busca inspiração às localizações de Silent Hill.

Tal como todos os projectos feitos por paixão e em tempo livre, “Cabo das Tormentas” teve momentos em que poderia nunca ter visto a luz do dia. E é aqui que os concursos nacionais demonstram a sua importância. Em 2022, Filipe Tomé reuniu-se novamente com a sua equipa e propôs desenvolver uma demonstração para o Indie X e PlayStation Talents. No passado, o pitch do jogo foi elogiado e contactos foram feitos noutras ocasiões. Porque não?

O programador (Filipe Serrazina), o artista 3D (Bernardo Silva), a artista 2D (Madalena Valentim), e o game designer (Filipe Tomé) compõem a MoonVeil Studios. Com a criação duma demo para concorrer a dois concursos em Portugal, esta equipa espera demonstrar o potencial alcançável com uma história portuguesa.

Cabo das Tormentas
© MoonVeil Studios

O líder criativo ainda explica quais os próximos passos que esperam alcançar. “Se tivermos feedback positivo e arranjarmos orçamento (arranjar uma publisher), então muito possivelmente iremos abrir empresa e dedicar nos a criar uma experiência bastante imersiva e aterrorizadora sobre a nossa visão dos Descobrimentos”.

Independentemente do resultado dos concursos, a demo “Cabo das Tormentas” é mais uma prova do impacto que estas iniciativas podem ter na indústria portuguesa. Algumas equipas conseguiram o seu orçamento para terminar os jogos graças aos contactos e exposição que são feitos nestes eventos. Aliás Filipe Tomé, juntamente com a Eskimo Studios, apresentou “Blodoffer”, “Ranch Tycoon” e “Lost Transmission” no Moche XL e Lisboa Games Week em 2019.

Caso tenhas curiosidade, esta demo pode ser jogada depois de realizar um download gratuito no site Itch. Tens alguns minutos para te ambientares à caravela São Cristóvão.

Se este projecto te chamou à atenção, não te esqueças de seguir o trabalho de:

  • Filipe Tomé | Líder Criativo e Game Designer | já foi convidado no programa “Gameplay” da SIC Advnce; participou em diversos podcasts e chegou a criar o seu “Um Olhar Por Narrativa“; sendo que “Cabo das Tormentas” é o seu verdadeiro teste como game designer, depois de se focar em design de narrativa.
  • Bernardo Silva | Artista 3D | licenciado em Jogos Digitais e Multimédia e actual freelancer; desenvolveu alguns jogos nos últimos 4 anos, nomeadamente em Game Jams; trabalha especialmente na produção de ambientes estilizados, no Unreal Engine.
  • Filipe Serrazina | Programador | licenciado na área de programação de videojogos e motores de jogo; é freelancer, professor e mentor; faz ainda conteúdo sobre videojogos no Youtube, como tutoriais e devlogs.
  • Madalena Valentim | Artista 2D | enfermeira veterinária; sempre gostou de desenho e entrou na comunidade gaming aos 15 anos; começou a interessar-se por arte em videojogos nos últimos 2 anos, especialmente em concept art e ilustração; fez a ilustração da capa do livro “Um Toque de Magia“, de Catarina Lourenço; focou-se em cursos online na área de videojogos para crescer o seu portfólio e acabou por ser convidada a participar no “Cabo das Tormentas”.

Cabo das Tormentas
© MoonVeil Studios

Mesmo entre criadores portugueses, não há muitos projectos que pareçam destacar a cultura e história portuguesa, ou utilizá-la para inspiração. Portugal é considerado por muitos estrangeiros um pequeno refúgio escondido, e já foi palco de diversas produções cinemáticas ao longo dos anos. Um dos mais clássicos poderá ser “On Her Majesty’s Secret Service”. Mais recentemente, o canto lusitano foi escolhido para cenas de “House of the Dragon” ou “Fast X”.

Nos videojogos, ainda é um tema pouco explorado, e provavelmente por isso poderá ser uma mina de ouro para aqueles que procuram contar algo novo e fresco. Por exemplo, a Something Wicked Games junta veteranos dos videojogos para trazer “Wyrsong”, que se inspira nos tempos da Idade Média no nosso país. E parecem levar o trabalho de casa muito a sério!

Por cá, continuaremos atentos ao trabalho destes 4 portugueses, que escolheram mistérios com centenas de anos para deixar a sua marca.

COMUNIDADE DUMMIES

Vamos crescer juntos

#GamingIsAWorldChanger
Send this to a friend