Não se torna mais claro que isto. Jim Ryan, CEO da Sony Interactive Entertainment esclarece que não há acordo ou negócio que leve a empresa a aceitar a fusão entre a Microsoft e Activision Blizzard.
A batalha continua acesa, com cada vez mais declarações a serem feitas da parte das duas empresas de videojogos responsáveis pela divisão PlayStation e Xbox.
Se já perdeste o fio à meada como eu, vamos lá então. Para que a aquisição de quase 70 mil milhões de dólares seja aprovada, há um conjunto de entidades pelo globo que terão de aprová-la. Isto, depois de uma análise profunda do mercado e possíveis consequências para garantir que tanto se evita um monopólio, como os consumidores não saem prejudicados. Surgem também centenas, senão milhares de páginas de documentos da Microsoft a defender a sua posição, e da competição, a dar o seu parecer. Até agora, marcas como Ubisoft, Tencent, Valve e Google não parecem ter problemas com a possibilidade da Activision Blizzard King (ABK) juntar-se à empresa americana.
Mas a Sony é decididamente contra, tendo utilizado diversos argumentos para mostrar a sua posição, como: a falta de títulos que rivalizem com Call of Duty; serviços que compitam com o Xbox Game Pass; e o receio que a Microsoft torne os jogos exclusivos, apesar da mesma ter confirmado em várias ocasiões que não o fará, tendo até proposto um plano de 10 anos para assegurar a competição.
Neste momento, há três grandes reguladores que parecem opor-se à fusão: a Federal Trade Commission (FTC) dos EUA, a Competition and Markets Authority (CMA) do Reino Unido e a Comissão Europeia.
Apesar das constantes tentativas da Microsoft em colaborar com a competição – tendo até já chegado a um acordo com a Nintendo para trazer Call of Duty às suas consolas (e até com a NVIDIA!) – estes órgãos reguladores continuam impenetráveis.
Mais recentemente, a empresa americana até investiu em publicidade, colocando anúncios no Financial Times e Daily Mail.
Mas a Sony não parece ceder. Aliás, a empresa japonesa suscita cada vez mais críticas negativas da parte de jogadores e comunicação social pela posição em que se tem colocado. Inclusive sugerir que a Microsoft, mesmo que lançasse Call of Duty nas consolas PlayStation, poderia entregar uma versão pior, propositadamente, para prejudicar a competição:
(…) a Microsoft poderá lançar uma versão de Call of Duty para PlayStation onde bugs e erros surgem apenas no nível final do jogo ou após atualizações posteriores. Mesmo que essas degradações pudessem ser detectadas rapidamente, qualquer remédio provavelmente viria tarde demais, pela altura em que a comunidade de jogadores teria perdido a confiança na PlayStation como um local para jogar Call of Duty. De fato, como atesta Modern Warfare II, Call of Duty é mais frequentemente comprado apenas nas primeiras semanas de lançamento.
Sony Interactive Entertainment, documento ‘Observations on the CMA’s Remedies Notice‘, alínea 22 (Página 8 de 13)
Se se soubesse que o desempenho do jogo no PlayStation era pior do que no Xbox, os jogadores de Call of Duty poderiam decidir mudar para a Xbox, por medo de jogar seu jogo favorito num local de segunda classe ou menos competitivo.
Outras possíveis cenários são sugeridos pela Sony no mesmo documento, na página 7. Refere que a Microsoft poderia adoptar várias estratégias para prejudicar a competição, tais como:
- Aumentar o preço de Call of Duty na PlayStation;
- Diminuir a qualidade de Call of Duty na PlayStation face à Xbox;
- Degradar Call of Duty para ignorar ou não dar prioridade a funcionalidades únicas da PlayStation (como características do DualSense);
- Degradar, restringir ou não priorizar o investimento no multiplayer da PlayStation;
- Tornar Call of Duty disponível apenas no serviço Xbox Game Pass.
Acaba por aqui? Não. A Bloomberg reportou que a Sony pediu à CMA para bloquear a aquisição ou forçar a Microsoft a vender a propriedade Call of Duty.
Mas se achávamos todos nós que tudo o que era preciso para acalmar a Sony era chegar a um consenso, a realidade é bem diferente. Quem o disse foi o próprio Jim Ryan, CEO da empresa, de acordo com Lulu Cheng Meservey, CCO da Activision Blizzard.
Meservey explica que a Sony recusa qualquer tentativa da Microsoft em negociar porque, pura e simplesmente não quer, e que Jim Ryan terá dito mesmo:
Eu não quero um novo acordo do Call of Duty. Eu apenas quero bloquear a vossa fusão.
Jim Ryan, CEO da Sony Interactive Entertainment, na conferência em Bruxelas a 21 de Fevereiro de 2023
Aí têm. Parece que a Sony vai sempre recusar esta aquisição. Embora não caiba à empresa tomar a decisão, e sim aos órgãos reguladores, a sua popularidade certamente que tem decaído com esta novela. Particularmente, os espectadores continuam a apontar a aparente hipocrisia (pelo receio de acções que a Sony já pratica ou praticou), e pela clara demonstração de receio com a aquisição e do que possa daí advir.
Independentemente do desfecho, é quase certo que a Sony está a destruir pontes com a Microsoft e ABK, apesar de ser a líder do mercado de consolas e videojogos.