Xenoblade Chronicles 3 – Review

Em suma, “Xenoblade Chronicles 3” apresenta motivos mais que suficientes para conquistar até o amante de JRPG mais suspicaz. Quem acompanha a saga desde a sua génese, na modesta Nintendo Wii, verificará que a Monolith Soft tem demonstrado uma capacidade evolutiva como pouca equipa até hoje. Espera. Leitor. Este amontoado de palavras soa a conclusão, não é? Desculpa-me. Este não é o exórdio típico de uma análise. Até calha bem pois “Xenoblade Chronicles 3” não é um videojogo qualquer. Canaliza o teu Shulk interior e começa mesmo a sentir o poder da Monado, como no primeiro “Xenoblade Chronicles”, voltando atrás no tempo para o verdadeiro começo desta crítica.

“Xenoblade Chronicles 3” é o último produto da fornada produzida pela equipa Monolith Soft, uma das desenvolvedoras mais ferazes do cardápio da Nintendo desde a sua aquisição em 2007. Esta última iteração na franquia continua dentro do género RPG de ação (pela qual ela é conhecida) e é uma das sequelas mais aguardadas para uma saga que assentou alicerces sobre como produzir um mundo aberto. São esperados combates frenéticos, paisagens deslumbrantes, enredo emocional e uma banda sonora que será sem equívocos um clássico instantâneo. Confirmo com confiança que tudo o que foi alcançado pela equipa supracitada foi mera aprendizagem para este colosso de nome “Xenoblade Chronicles 3”.

Xenoblade Chronicles 3
© Nintendo

Dito isso, chega a um ponto onde é possível afirmar que a Monolith Soft domina a arte de construir não só mundos fantásticos e gigantes, mas também um enredo cativante e uma narrativa fluída, algo que entrarei em grande detalhe brevemente (sem spoilers fora as primeiras horas e premissa principal!) para explicar porquê; noutro aspeto, refletindo sobre o ato de abertura do título em epígrafe, o seu maior feito encontra-se no salto de gráficos pré-renderizados para gráficos em tempo real. Esta será, certamente, inspiração direta em “Lost Odyssey” na Xbox 360 onde, após uma cinemática explosiva e arrebatadora, o jogador é lançado para o meio da ação que estava a assistir, muito provavelmente surpreendendo quem estava colado ao seu assento.

Admito, no entanto, que o enredo que a Monolith Soft cozinhou para os fãs é nada senão deliciosamente bizarro em teoria, e muito clichê anime em prática: num mundo envolvido em conflito, controlamos personagens que nascem já adolescentes com apenas dez anos para viver. Os primeiros são passados a treinar para o dito cujo, onde todos raramente chegam ao profetizado limite imposto. Dado que a sociedade vive tão ferozmente este agressivo e curto conceito de viver, todas as vidas perdidas são celebradas não só pelo ato de sacrifício heroico, mas também por outro motivo ainda mais peculiar.

Xenoblade Chronicles 3
© Nintendo

Digo peculiar, porque o ciclo que prende duas fações beligerantes é determinante para a sua sobrevivência. Não diretamente por motivos considerados fúteis, mas sim porque cada indivíduo nasce vinculado a um Flame Clock, objeto misterioso que necessita de um sustendo especial: a essência de vida de um inimigo para continuar aceso, outrora todos os interligados a ele falecem. Como seria de esperar, esta mecânica exalta e precipita ambos os lados da história, incitando conflito repetidamente não só porque discordam da forma como vivem, mas também porque não vêem outra opção para sobreviver. Posto isto, graças à ironia do destino e um pouco aos Deuses da escrita, “Xenoblade Chronicles 3” apresenta-nos motivos fundamentados para juntar personagens de ambas as fações, rumo a uma epopeia de proporções grandiosas com um objetivo em comum.

Aqui “Xenoblade Chronicles 3” transforma a sua narrativa para acomodar as personagens em ação, afunilando por um lado o progresso do enredo mas, misteriosamente, expandindo-o também. Pode parecer peculiar e contraditório, especialmente pela descrição supracitada, mas no coração do título em epígrafe, dentro desta esfera que é o enredo, a alma centra-se à volta das personagens que acompanhamos durante horas. São os laços construídos e tragédias assistidas, os ideais quebrados e ambições testadas; tanto elemento a ter em consideração que seria má índole da minha parte fornecer-te com o mínimo detalhe. Como se diz em bom português “quem não sente não é filho de boa gente!” “Xenoblade Chronicles 3” consegue proporcionar momentos fabulosos, tanto no decorrer dos capítulos como no fim de cada um por conhecer tão bem as suas ferramentas narrativas e o que fazer com elas, deixando qualquer um tenso com as revelações e reviravoltas.

Xenoblade Chronicles 3
© Nintendo

Importa referir que mesmo quem nunca jogou algo da saga conseguirá seguir a história. “Xenoblade Chronicles 3” detém um enredo muito próprio que não depende das entradas anteriores para fazer sentido. Conseguirás tirar mais proveito se jogares os anteriores, mas nada é essencial para compreender e seguir a narrativa; esta é mais uma excelente decisão por parte da Monolith Soft para acomodar novos jogadores a este lançamento muito importante para a Nintendo em 2022.

Nada disto seria possível sem um recurso importante para uma imersão mais completa: as cinemáticas. Toda a apresentação, do momento mais parado até ao mais frenético, é conduzida com um ritmo excelente; atrevo-me a dizer, inclusive, que “Xenoblade Chronicles 3” detém das melhores cutscenes (que podem ser interrompidas ou ultrapassadas a qualquer momento) em memória recente, especialmente para um RPG nipónico onde a competição é impetuosa. Fãs de boas estruturas narrativas compreenderão que estas estão desenhadas em torno das personagens principais, enaltecendo os seus feitos e amplificando os momentos dramáticos como qualquer série bem escrita o faria. É um feito em parte alcançado graças à preciosa ajuda da banda sonora, obra tão boa como as iterações anteriores da saga, onde cada tema e instrumental define o tom e sentimento a ser evocado, seja em batalha ou num momento pacato e fulcral para o desenvolvimento destes heróis desajustados. A música de “Xenoblade Chronicles 3” é daquelas que vai evocar memórias das suas passagens, daqui a uns anos, quando calharmos após uma das faixas no Youtube e Spotify. Dito isso, recomendo utilizarem um bom headset com capacidade para som 5.1, algo que este título suporta.

Xenoblade Chronicles 3
© Nintendo

Contudo, por muitas odes e glórias que eu cante em nome de “Xenoblade Chronicles 3” e subsequente enredo, nem sempre os vários elementos narrativos são executados impecavelmente. Muito material é reutilizado vezes e vezes sem conta, quase insultando o jogador que está a prestar atenção ao épico. Não quero cair em contradição, mas apesar de adorar as cinemáticas sinto que algumas foram esticadas até ao máximo; todo o sumo espremido até à mais ínfima gota, semelhante ao que acontece a um anime semanal do género shonen com vinte minutos de episódio. Ao criticar este ponto em específico encontro-me numa dualidade: por um lado compreendo a decisão de prolongar certas sequências; existem conceitos e ideias que têm de ser repetidos ad aeternum para criar expectativa no jogador, mas por outro quem já tem um andamento dentro do género saberá quando prestar atenção e do que tomar nota.

Ainda assim nada na série será um alívio tão grande como aquele que vários fãs da franquia irão reconhecer de seguida: as demandas secundárias foram vastamente melhoradas. “Xenoblade Chronicles 3” quase que abomina as popularmente intituladas fetch quests, missões fora da trama principal que forçam o jogador a satisfazer objetivos como recolher certo número de materiais ou destruir determinado número de inimigos. Em contraste, várias são as demandas secundárias disponíveis, devidamente etiquetadas, que exploram o passado dos companheiros de equipa ou até da vivência nas povoações distribuídas pelo mundo, enriquecendo a experiência daqueles que procuram utilizar o seu tempo livre para perseguir estas demandas.

Xenoblade Chronicles 3
© Nintendo

Por referir tempo livre, é notável que iteração atrás de iteração a Monolith Soft consiga melhorar o seu maior trunfo nesta indústria. O meio-ambiente que percorremos é espantoso, recheado de vistas que vão de penhascos até planícies montanhosas com vários atalhos e caminhos para chegar ao destino pretendido, fazendo da exploração deslumbrante em “Xenoblade Chronicles 3”. Onde esta iteração em particular marca pontos é numa função chamada show quest route, uma alternativa completamente opcional (para quem veio recentemente de um “Elden Ring”) que mostra o caminho que tens de percorrer ao teu objetivo. Pode parecer contraprodutivo para um título com esta dimensão, mas para quem se perde com imensa facilidade, ou tem um péssimo sentido de orientação como é o meu caso, esta opção permite-me partir à descoberta ao meu ritmo, sabendo sempre que posso ligar o GPS quando necessário.

Tanta coisa dita e ainda nem uma única frase sobre o combate. Partindo do pressuposto que não sabes como funciona a saga, uma festa caótica em terceira pessoa de ataques automáticos, habilidades espalhafatosas (chamadas de Arts) e gritaria constante em inglês britânico, é durante uma batalha que a personagem escolhida ataca automaticamente um inimigo quando próxima dele, tendo sempre rédea livre de movimento, com botões a desencadear diversas habilidades especiais que seguem um molde mais RPG: curar outras personagens, chamar a atenção das hostilidades, etc. Algumas, no entanto, necessitam de um posicionamento mais estratégico para funcionar a cem por cento e, sabendo de antemão que frequentemente controlas seis personagens durante o combate, tudo isto parece um pouco confuso e difícil de manusear, mas a interface gráfica, por muito obstruída que pareça estar faz um bom trabalho em indicar-te as informações mais importantes de uma forma fácil e rápida.

Xenoblade Chronicles 3
© Nintendo

Muito cedo na aventura de “Xenoblade Chronicles 3”, é adquirida a capacidade de alterar as classes das personagens e à medida que estas são dominadas por completo, aprendem-se novas Arts que ocuparão mais tempo a construir diferentes combinações para otimizar o potencial de cada combatente. Para além disso, cada membro da tua equipa desempenha um de três papéis: Attacker, Defender e Healer e, da forma como está tudo empacotado mecanicamente, a melhor comparação seria estabelecida com um MMO (Massive-Multiplayer Online) tradicional. É um sistema espetacular que proporciona imensa liberdade a quem souber aproveitar mas, em contrapartida, é onde uma questão divisiva nasce. Como a interface gráfica necessita de acomodar todos estes elementos, não é incomum entrar numa batalha e perder o norte ao que está a acontecer devido à demasia de informação transmitida. Aliás, “Xenoblade Chronicles 3” apresenta-te tanta mecânica diferente, dentro e fora de combate, que és bombardeado com pequenos cartões de texto durante a aventura, explicando algo novo ou diferente, até ao desenrolar dos créditos.

Ainda assim, quando entras em velocidade cruzeiro com tudo o que “Xenoblade Chronicles 3” apresenta, o combate é um verdadeiro deleite. Os ataques automáticos, as poderosas Arts, as combinações de ataques, os ataques em cadeia (Chain Attacks) e agora uma novidade que transforma as personagens num ser mais poderoso ainda, em conjunto com o sistema de classes acima descrito fazem deste traço da jogabilidade um dos elementos mais polidos na franquia. Tudo ajuda para criar um sistema que é viciante, revigorante e um dos mais divertidos do título. Contudo, não querendo terminar a nota num tom agreste, o único pecado grave deste (e dos outros) “Xenoblade” é não conseguir desligar as vozes durante as lutas. É genuinamente tão irritante ouvir vezes e vezes sem conta a mesma expressão dita em todas as batalhas, fruto da ativação de uma Art ou outra coisa qualquer.

Xenoblade Chronicles 3
© Nintendo

Não seria possível desfrutar de todos estes elementos no seu melhor não fosse a excelente otimização, tendo em consideração o tipo de videojogo, presente em “Xenoblade Chronicles 3”. A Monolith Soft esmerou-se e conseguiu fazer mais e melhor do que nas iterações anteriores. Não só o desempenho é sólido, com uma taxa de trinta fotogramas e um frame pacing constante, tanto em modo portátil como consola, mas o meio-ambiente aparenta ter ainda mais conteúdo comparativamente à primeira e segunda aventura. Julgo que possa confirmar que é o título mais visualmente impressionante na Nintendo Switch, uma máquina com hardware que não era sequer topo de gama em 2017. Existem áreas ou batalhas onde o desempenho quebra um pouco como já seria de esperar, mas nada de agravante e muito menos ao nível de “Xenoblade Chronicles 2”.

CONCLUSÃO

Em suma, “Xenoblade Chronicles 3” apresenta motivos mais que suficientes para conquistar até o amante de JRPG mais suspicaz. Quem acompanha a saga desde a sua génese, na modesta Nintendo Wii, verificará que a Monolith Soft tem demonstrado uma capacidade evolutiva como pouca equipa até hoje. O combate é euforizante e tático com a introdução de novos elementos, o mundo é único e gigantesco que impressiona até na Switch e o enredo é em iguais partes emocional e dramático, puxando uma ou outra lágrima. Mas esta aventura também tem os seus pontos fracos: diálogo que não dá para desligar durante o combate, interface gráfico muito ocupado frequentemente e algumas cinemáticas demasiado longas sem sentido. Ainda assim, “Xenoblade Chronicles 3” representa uma epopeia excelente em todas as vertentes, sendo um candidato sério para jogo do ano pelo menos na categoria RPG.


PRÓS

  • Combate em tempo real que recompensa experimentação
  • Enredo cativante com um leque de personagens interessantes
  • Mundo aberto espetacular com imenso detalhe que recompensa exploração
  • Apresentação geral atraente com um estilo artístico muito próprio
  • Banda sonora repleta de melodias emocionantes
  • Desempenho na Nintendo Switch tendo em conta o hardware

CONTRAS

  • Interface gráfico que fica muito ocupado frequentemente
  • Expressões e diálogo nas batalhas irritantes
  • Algumas sequências cinemáticas prolongam-se demasiado

| Título | Xenoblade Chronicles 3
| Plataformas | Nintendo Switch
| Género | Acção, RPG
| Estúdio | Monolith Soft
| Publicadora | Nintendo
| Preço | 59,99€
Site Oficial

Ai, a criança em mim!

AI, A CRIANÇA EM MIM!

9/10


Código de review foi providenciado pela Nintendo Portugal
Foi utilizada uma Nintendo Switch e um monitor AOC 24G2U para esta review

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