Esta é uma simples história contada de forma arrebatadora que demonstra um futuro risonho da State of Play. Se procuras uma nova aventura cinemática, com uma narrativa que oferece um tom tanto leve como intenso, com algum descanso no comando, “South of the Circle” deverá ser a tua próxima aposta.
State of Play é um pequeno e promissor estúdio que procura introduzir-nos a mundos originais com histórias que marcam. Já se podia ver a sua busca em tentar técnicas diferentes com “Lumino City” – que me lembra ainda o que a btf fez com “Trüberbrook” –, e o seu novo projecto enverga por um caminho mais cinemático do que um jogo propriamente.
“South of the Circle” conta uma história curta mas soberba de Peter, um jovem adulto que se encontra despenhado na Antártida, no pico da Guerra Fria. Este continente está sob um tratado que impede que a sua área seja utilizada para testes nucleares, desperdício radioativo e que seja somente palco de investigação científica pacífica, onde todas as nações são amigáveis. Portanto, não há espaço também para conflitos ou guerras.
Peter acaba por se encontrar numa situação delicada que coloca este tratado em risco, à medida que vai procurando uma forma de ajudar o seu piloto e sobreviver neste gélido continente, acabando por desvendar um mistério. É nesta demanda que o protagonista aos poucos se vai recordando de conhecer Clara, uma professora que ensina na Universidade de Cambridge – a mesma de Peter – e com quem acaba por construir uma relação.
A equipa da State of Play constrói a sua narrativa de forma interessante e até intensa entre os momentos do presente e do passado, alternando entre o mistério que se adensa na Antártica e ameaça a sobrevivência de Peter e o piloto, e o doce relacionamento que poderá colocar a carreira do protagonista à prova.
É uma boa história apresentada de forma cativante, tornando-se cada vez mais apelativa à medida que se avança até chegar ao clímax e sua desapontante resolução, tratando-se de um conto quase sem acção necessária do jogador.
A jogabilidade de “South of the Circle” resume-se a utilizar os botões do comando para escolher reacções diferentes e, muito esporadicamente, usar o analógico esquerdo para mover o personagem ou orientar um veículo. Mas, em suma, é um jogo que tem pouco de jogo. Não é o primeiro nem será o último projecto que visa contar uma história com poucas opções de escolha. Aliás, senti que não tinha nenhuma.
Ao contrário das várias hipóteses de diálogo dos RPGs mais aprofundados, ou jogos narrativos como a série “Life is Strange”, “South of the Circle” não mostra as falas que vamos escolher. Somente apresenta no início uma introdução sobre as emoções com que podemos responder nos diferentes diálogos, passando por ondas como entusiasmo, apreensão, optimismo, pessimismo ou stress, sem qualquer pré-visualização do que Peter irá dizer. Literalmente, fica-se às cegas. Além disso, há situações em que aparece apenas uma opção para escolher. Qual é a ideia disto? Se há algum objectivo de colocar o jogador no controlo de uma parte da história, isso é completamente retirado. Parece, no entanto, que a ideia de State of Play é contar a sua própria aventura, tornando esta mecânica algo desnecessário e irrelevante para a experiência. Pelo menos, foi essa a sensação que deixou ficar.
Não obstante, uma das coisas que salva o jogo de cair no esquecimento, e que complementa a sua história interessante, é uma banda sonora que nos prende ao ecrã. Há momentos de serenidade que nos deixarão nostálgicos, e outros de tensão que nos arregalam os olhos com curiosidade sobre o que irá acontecer. Com a animação feita pelo estúdio em alguns destes momentos mais cinemáticos, é difícil fazer uma pausa.
E é sem dúvida o aspecto gráfico que vende o jogo à primeira vista. É utilizado um tom mais minimalista – ainda que apresente um detalhe necessário para aprofundar o estímulo visual – que demonstra mais uma vez que nos videojogos a Arte tem inúmeras expressões. Numa apresentação 2D com nuances 3D, a imagem torna-se credível e fluída o tempo todo, com a excepção de alguns bugs: como sombras pixelizadas, ou planos de desenho sobrepostos que quebram o ritmo e atenção na experiência de jogo.
Ainda no factor artístico, diria que um dos aspectos mais decepcionantes é o escasso detalhe nos rostos dos personagens. Não parece ir de encontro ao incrível pormenor que por vezes vemos no resto do jogo, e as faces parecem até inexpressivas. Torna-se um pouco contraditório dado o lado emotivo que se sente no decorrer de “South of the Circle”.
No fim, foi mais a conclusão incrivelmente inconclusiva que me apanhou desprevenida. As escolhas realmente demonstram ser falsas escolhas, e há até uma certa incoerência e incómodo entre o discurso e a reação que se obtém na fase final. O fim da história é confuso e uma desilusão depois duma construção que começa de forma tranquila e se desenvolve cada vez mais intensamente.
Mas “South of the Circle” ainda tem uma boa história para contar: com um elenco fantástico a emprestar a sua voz aos personagens e que nos permite relacionar com as mesmas; arte visual cativante; e uma música inesperadamente estimulante.
Certamente que com alguns patches para resolver bugs, e uma procura por melhorar as legendas (ah pois, porque este jogo tem Português de Portugal!), “South of the Circle” torna-se um título recomendado para aqueles que procuram deixar-se levar por um bom conto que lhes ocupe umas curtas horas.
PRÓS
- História construída de forma interessante
- Banda sonora envolvente
- Visuais bem conseguidos
- Voice acting muito bom
CONTRAS
- Opções de diálogo fracas e imperceptíveis
- Os desenhos nos rostos carecem de emoção
- Alguns bugs visuais
| Título | South of the Circle
| Plataformas | Xbox Series X|S, Xbox One, PlayStation 5, PlayStation 4, Nintendo Switch, PC e iOS
| Género | Aventura, Narrativa
| Estúdio | State of Play
| Publicadora | 11 bit studios
| Preço | 12,99€
Site Oficial
“IMPRESSIVE, MOST IMPRESSIVE“