E o nome dela é Tchia. A jovem protagonista deste jogo de aventura género sandbox de mundo aberto desenvolvido pelo pequeno estúdio francês Awaceb e publicado pela Kepler Interactive, a mesma publicadora de “Sifu” e “Scorn”. O estúdio já tinha lançado em 2016 um jogo de plataformas 2D chamado “Fossil Echo” que foi nomeado e premiado nalgumas das respetivas categorias de jogos indie. Desta vez, quiseram tentar a sorte com um estilo visual em 3D usando o Unreal 4 para o fazer e, na minha opinião, foram muito bem sucedidos!
O jogo começa com daquelas fábulas contadas em volta de uma lareira, que vão passando de geração em geração para ensinar uma lição aos mais novos. A heroína dessa história e do nosso jogo, aventureira e muito amiga do seu pai, vê-se a braços dados com a exigente missão de resgatá-lo das garras de uma entidade maligna local, chamada Maevora. “Tchia” à semelhança do seu antecessor é também inspirado na cultura polinésia, mais propriamente no arquipélago de Nova Caledónia, onde o estúdio desenvolvedor se localiza, e implementa vários elementos da mesma nas suas mecânicas de jogo, nomeadamente a de tocar um ukulele para mudar o tempo e evocar animais e criaturas mágicas, possuir espíritos de animais e objetos, bem como os elementos musicais e toda a história que envolve lendas e mitos do folclore do povo em questão.
Uma das características marcantes de “Tchia” é sua mecânica de possessão, que permite aos jogadores assumirem o controle de diversos objetos e animais no mundo do jogo. Essa mecânica adiciona uma nova camada de profundidade à jogabilidade, permitindo resolver quebra-cabeças de forma criativa e desvendar segredos ocultos. Seja navegando nas águas como um golfinho ou voando pelos céus como um pássaro, a habilidade de trocar entre formas cria uma sensação de admiração e liberdade. A sua jogabilidade é uma deliciosa mistura de plataformas, resolução de quebra-cabeças e exploração que nos faz lembrar uma mistura do ambiente de “Moana” da Disney, com aspetos da jogabilidade em “The Legend of Zelda” e mecânicas idênticas ao “Mario Odyssey”.
Por exemplo, ela pode possuir animais marinhos para atravessar áreas submersas rapidamente e sem perder o fôlego após alguma progressão na história, ou em pássaros, que são um meio de locomoção rápido, quase tão eficiente quanto a viagem rápida. Quanto aos objetos, eles são usados para causar dano aos inimigos – embora o jogo não se concentre tanto nesses momentos de combate, é necessário derrotar alguns inimigos pelo mapa. Vale mencionar que pano não combina com fogo, então Tchia pode-se transformar num tronco em chamas de uma fogueira ou até mesmo em uma lâmpada a óleo.
O estilo artístico do jogo é simplesmente deslumbrante. As cores vibrantes, os ambientes exuberantes e a atenção aos detalhes tornam cada canto um deleite visual. Das praias arenosas às florestas densas, cada localização é cuidadosamente elaborada, imergindo os jogadores num mundo que parece vivo e repleto de personalidade. O ciclo dia/noite e os efeitos climáticos aumentam ainda mais a atmosfera, adicionando um pano de fundo dinâmico e em constante mudança para a aventura.
No coração de “Tchia” está uma história comovente e emocionante. A narrativa explora temas como família, comunidade e autodescoberta, envolvendo os jogadores na jornada da protagonista, repleta de momentos reconfortantes e reviravoltas surpreendentes, oferecendo uma motivação convincente para avançar no jogo.
A exploração é, sem dúvida, o ponto mais forte dessa aventura. As movimentações variadas e fluídas à disposição de Tchia tornam a exploração extremamente divertida. Embora haja um mapa, ele não é apresentado de maneira tradicional. O mapa aparece sem pontos ou marcadores visíveis. Claro que o ponto a seguir na história principal é destacado, mas todo o conteúdo colecionável, que é secundário, está “escondido”. A exploração é a chave para descobri-los.
É fascinante notar por exemplo, a presença de minijogos que desafiam as habilidades dos jogadores e têm propósitos únicos. É possível esculpir máscaras em troncos de madeira, que, ao serem colocadas nos lugares certos, abrem portas para locais mágicos e secretos. Além disso, é possível construir torres de pedra que, quando concluídas, ensinam novas melodias que podem ser tocadas no ukulele, proporcionando benefícios momentâneos, como a habilidade de criar uma bolha protetora ao redor da cabeça e explorar ambientes subaquáticos sem se preocupar em perder o fôlego. Os momentos musicais também são marcantes, criando uma conexão com os povos presentes em diferentes localidades.
Ao longo dos 10 capítulos animados, é difícil estabelecer um tempo exato para concluir a história. Na verdade, o jogo clama para ser explorado, mesmo que grande parte do conteúdo seja puramente estético. É interessante poder personalizar tanto a personagem quanto os elementos presentes no barco. Sim, há um barco que permite atravessar o mar e chegar a novas ilhas.
Conforme os jogadores atravessam as ilhas, encontrarão diversos desafios, desde quebra-cabeças intricados que exigem raciocínio inteligente até seções emocionantes de plataformas que testam sua destreza. O jogo equilibra bem entre fornecer orientação e permitir que os jogadores descubram e desvendem segredos no próprio ritmo. E, embora “Tchia” se destaque em muitas áreas, não está isento de algumas pequenas falhas. Podemos encontrar alguns problemas ocasionais de desempenho, especialmente em hardware mais antigo. Além disso, embora a mecânica de possessão acrescente profundidade à jogabilidade, há um leve risco de se tornar repetitiva em sessões de jogo prolongadas.
No entanto, e apesar disso, não é algo que nos impeça de disfrutar o melhor que o jogo oferece. “Tchia”, que já está disponível para jogar no PC e PlayStation, transborda amor e referências a uma cultura nova que merece ser explorada e como tal, cumpre o objetivo a que se propôs. Com um design simples e mecânicas inovadoras de jogabilidade, a história emocionante e apresentação bonita e pitoresca do jogo tornam-no um título de destaque dentro do género de aventura em mundo aberto. O cenário inspirado na cultura Polinésia também é uma mudança única e refrescante dos jogos de mundo aberto habituais. E apesar de algumas mecânicas poderem ser melhoradas e de alguns bugs ocasionais, estes são insignificantes e em nada alteram a experiência que o jogo proporciona. Mesmo depois de mais de 20 horas jogadas, ainda há muito para explorar! “Tchia” é uma aventura que clama por ser desvendada e que recomendo vivamente aos fãs do género a embarcarem!
PRÓS
- Um jogo visualmente simples e bonito;
- História emocionante e personagens cativantes;
- Diálogos engraçados;
- Personalização e recompensas;
- Desafios e mecânicas de jogo variadas;
- Boa banda sonora, som e voice-acting;
- Liberdade para continuar a explorar e jogar mesmo depois de completar a história.
CONTRAS
- Ligeiros problemas de desempenho;
- Alguns bugs em certas mecânicas e animações;
- O sentido de orientação do mapa é confuso por vezes;
- Os objetivos nem sempre são bem definidos.
| Título | Tchia
| Plataformas | PlayStation 4, PlayStation 5 e PC
| Género | Aventura, Sandbox, Mundo Aberto
| Estúdio | Awaceb
| Publicadora | Kepler Interactive
| Preço | 29,99€
Site Oficial
“AI, A CRIANÇA EM MIM”