Outcast – A New Beginning – REVIEW

Deus Cristo, que é isto. São 22h22 de 11 de Março quando abro o jogo para finalmente voltar ao mundo que visitei há quase 7 anos. Enquanto admiro o ecrã inicial tão convidativo e dinâmico digno de ecrã de fundo, de repente uma música dramática ecoa os meus antepassados algures gravados nos meus ossos e código genético. Transportei-me imediatamente para outro mundo – o de Outcast – que me tomou de assolo, e achei por bem vir aqui escrever isto. Agora vou começar a jogar a aguardada sequela. Estarei preparada?

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© Appeal Studios | Autora: Catarina Ferreira

Voltei, e algo me diz que não. Apenas conheci o mundo de Outcast em 2017, na versão remake dum jogo de 1999 cuja existência era totalmente inexistente no meu mundo. Não sabia o que era, mas tínhamos recebido nos Dummies um código para review e voluntariei-me. Afinal, gosto de andar aos tiros, gosto de explorar e gosto de ficção científica.

Não me recordo se na altura estava à espera do que encontrei, mas recordo-me de ter adorado estar num mundo tão único e estranho. Notava que realmente havia coisas que no ano do seu remake já estavam ultrapassadas, mas era algo jogável sem dúvida, e diverti-me imenso. Não descansei até completar as conquistas todas, explorando tudo o que houvesse e resolvendo todos os dramas dos humildes Talans.

© Appeal Studios | Autora: Catarina Ferreira

Portanto, quando a sequela foi anunciada e vi aquele lindo trailer, obviamente que fiquei contente. “Outcast – A New Beginning” para mim era obrigatório para jogar mesmo antes de saber muito sobre o que sairia dali. E não é que as expectativas foram preenchidas?

Não há grandes apresentações nem demoras quando voltamos a Adelpha, vinte anos após os acontecimentos do primeiro jogo. O antigo militar Cutter Slade regressa a um mundo familiar bem mais actual e deslumbrante, que nos apanha fascinados desde o começo, independentemente de jogarmos no modo Quality ou Performance. Não notei aqui grande diferença na resolução, mas bem mais nos FPS, como seria de esperar. Ainda assim, consegui adaptar-me bem a ambos!

Com a simples iniciação à narrativa e introdução à jogabilidade, a experiência de jogo começa de forma serena e sem grande espectáculo, dando-nos oportunidade de entrar lentamente neste universo. “Outcast – A New Beginning” dá uma boa porta de entrada para fãs da saga ou mesmo novatos.

À primeira vista, o salto geracional é notório e à medida que vamos explorando mais profundamente, é incrível ver como tudo parece mexer e reagir à nossa presença. Não é só o vento que dá alma à vegetação, é também Slade de cada vez que passa por plantas e flores. Algo que aprecio imenso em vez dos objectivos aborrecidos que vemos tantas vezes em jogos de mundo aberto. A flora transpira vida e eu posso interagir com ela.

© Appeal Studios
© Appeal Studios
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Existe uma diversidade de biomas pelo mapa onde podemos encontrar florestas verdejantes, montanhas com neve, paraísos à beira-mar e até desertos com picos altos. Há comunidades a viver em diferentes cenários com muita cor e vida para dar. A vida, aliás, está presente mesmo nas zonas mais desocupadas, já que diversos animais rodeiam-nos pela terra, ar e água. Se a humanidade a procurava, encontra de certeza em Adelpha em todo o lado, com os quatro elementos que regem a vida dos Talan, e uma quantidade humilde de animais indefesos e outros que nos vêem como ameaça. Logo de início, sinto-me frustrada pela falta dum photo mode. Para mundos-abertos, especialmente assim bonitos, devia ser obrigatório no lançamento! Tenho que me contentar com o HUD ligado e o personagem a fazer de escala a cada gravação de ecrã.

Sem dúvida que a parte visual é a que mais me fascina neste jogo. A atenção ao detalhe é extraordinária. Nas diferentes espécies de plantas e árvores, no pormenor de todas as estruturas… Fico fascinada com as escadarias e complexidade da vida em Desan, a biblioteca de Prokriana, os tons paradisíacos de Sappa. Toda a mobília e organização dos Talan das suas cabanas humildes às enormes edificações. Até dei por mim a admirar os aposentos dos invasores, que até toalha para os pés tinham em frente ao chuveiro. É um crime não haver photo mode. Há tanto que gostaria de explorar com uma câmara!

Outcast - A New Beginning
© Appeal Studios
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O título é devidamente recomendado, pelas horas de diversão e actividades que fornece, ganhando pontos bónus por manter a identidade do título de 1999. O ex-Navy SEAL continua com as suas piadas e humor sarcástico, e os Talan mantêm as suas diversas personalidades hilariantes. Enfim, tudo nos pode esperar em Adelpha nas mais variadas missões principais e secundárias, algumas com mais sentido que outras. Mas não me estou a queixar! Bem pelo contrário. Resolver as desavenças entre os habitantes de Adelpha e eliminar inimigos, ou escoltar animais de volta a onde pertencem são tudo tarefas igualmente importantes.

A jogabilidade é também mais modernizada, fluída e interessante do que a do seu antecessor, – algo que era expectável, não fossem 25 anos de diferença entre os lançamentos – mas consegue manter ainda o seu estilo com a salva de disparos fluorescentes e jetpack nas costas, obliterando qualquer inimigo que ouse colocar-se à nossa frente. A música ajuda a trazer drama às batalhas, e qualquer encontro acaba por se tornar entusiasmante, seja a arrumar com as bases dos invasores ou a limpar Gork aqui e ali.

© Appeal Studios
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Existe ainda um consistente conjunto de upgrades de combate e movimentação (para jetpack e glide) que são possíveis de comprar de forma equidistante à medida que atacamos mais bases: completamos mais missões e conseguimos mais materiais. Diria que fiquei um pouco decepcionada com a variedade de opções, em particular no combate. Apesar de incitante e mexido, acaba por se tornar bastante básico rapidamente, especialmente depois de conseguirmos maximizar todo o equipamento. O pior é mesmo quando se torna tão frenético que me deita o jogo abaixo a meio de batalhas. Tem sido um problema cada vez mais recorrente especialmente depois dos últimos patches. Não é a pior coisa, dado que o auto save está lá para nos salvar, mas há alturas em que se torna demais para um jogo supostamente completo e lançado há já duas semanas. Como diria um Talan muito sábio, “Não se coloca a carroça à frente dos Twon-Ha”, e neste caso teria sido boa ideia adiar o lançamento do jogo mais um mês ou dois para evitar este tipo de constrangimentos.

Outcast - A New Beginning
© Appeal Studios | Autora: Catarina Ferreira

Aliás, “Outcast – A New Beginning” apresenta bastantes problemas técnicos. O arrastamento de imagem foi felizmente corrigido antes do lançamento, mas há outras coisas que, embora não arruínem a experiência, tiram a magia por completo. Animais que ficam congelados no terreno ou no ar nas zonas com Gork Eruption; inimigos que acabam presos dentro de objectos ou se tornam impossíveis de matar assim que a barra de vida desaparece; plantas que nos ajudam em desafios tornam-se transgressíveis e inutilizáveis nos Orym Trails. Há um conjunto de coisas que prejudicam o próprio jogo já que a diversão se transforma em frustração causada pela falta de polimento e correcção de bugs que deviam ter sido feitas antes do lançamento. Até a distância de desenho possível é notória, já que quando percorremos longas distâncias sem a ajuda dos Daokas, vemos literalmente muitas das árvores, pedras e outros objectos a carregar não muito longe. E para mim, que sou uma pessoa estimulável através da parte visual, torna-se desinteressante ver também os padrões das pinturas de texturas aplicados no mapa, antes de tudo o resto carregar.

E o meu TOC fica particularmente perturbado quando tenho missões completas que ainda mostram notificações… Mas fiquei agradavelmente surpreendida pela forma como estas são consultáveis e organizadas.

Outcast - A New Beginning
© Appeal Studios | Autora: Catarina Ferreira

Tendo um mundo que incentiva à exploração, de certa forma senti que ia esquecendo a narrativa principal. A história é apresentada de sucintamente e um pouco fora do nosso controlo, de forma imprevisível e aparentemente aleatória em cutscenes aqui e ali. No começo algumas parecem desnecessárias, mas à medida que o enredo se intensifica, também as cenas sobem na escala. Fiquei muito surpreendida pela positiva com a qualidade das cutscenes, seja pelo aspecto mais gráfico, como pelo guião e montagem. Há bastante acção e reviravoltas pelo meio que deixam uma pessoa colada ao ecrã, especialmente nos últimos momentos.

Em “Outcast – A New Beginning”, Cutter Slade faz jus à sua lenda, a qual os Talan conhecem como Ulukaï. Não parece ter envelhecido um dia, mas acaba por se manter a par dos acontecimentos connosco, uma vez que o mesmo tem amnésia. A narrativa foca-se na relação entre Cutter Slade e a sua filha, Camilla, e o que essa conexão significa no conflito criado entre humanos e Talan. É aí que o Ulukaï se torna novamente a esperança dos habitantes de Adelpha.

© Appeal Studios | Autora: Catarina Ferreira

Slade só quer voltar a recuperar a memória e reencontrar a sua filha, mas para isso terá de ajudar os Talan das sete regiões. Todas elas têm as suas características, seja pelo bioma em que se encontram, seja pela história que as define. Tudo isso torna o mundo de Adelpha mais fascinante, demonstrando o cuidado que houve da parte dos criadores na construção de cenários diferentes sem que os mesmos se tornem repetitivos. É a variedade na geografia e cultura entre elas que trazem autenticidade a este universo. Emea dá-nos os melhores frutos das árvores mais altas; Sappa assemelha-se a uma vila piscatória; e Prokriana é a capital do conhecimento duramente atacada pelos invasores. Há história pelos cantos de todas estas cidades e aldeias, de tal forma que tenho pena de não haver missões secundárias que aprofundem ainda mais todo este livro rico em história.

“Outcast – A New Beginning” é um sólido soft reboot que recomendo a quem tenha curiosidade, mais pela personalidade única que possuí do que pela sua capacidade em singrar numa indústria saturada de jogos de mundo-aberto. Infelizmente passará despercebido à maioria, sendo um nome muito menos conhecido. No entanto, continuo a frisar que é algo que vale a pena jogar, quanto mais não seja, pela diversão que entrega. E a verdade é que, depois de terminar a história, fiquei com pena de não ter mais para explorar. Fico-me pelos coleccionáveis, que infelizmente tenho que apanhar noutra gravação. Posso ser picuinhas, mas detesto aqueles jogos onde não posso voltar ao mundo depois de completar a última missão…

© Appeal Studios | Autora: Catarina Ferreira

Espero que o sucesso do jogo seja o suficiente para vermos mais de Adelpha, pois sinto que podia perder centenas de horas a explorar os seus mistérios, fazer recados e trazer a paz entre mundos.

Infelizmente, pela quantidade de bugs, não consegui dar nota mais alta. E ainda assim acho que fui generosa…


PRÓS

  • Visuais deslumbrantes;
  • Vitalidade de Adelpha;
  • Talan com personalidades únicas;
  • Possibilidade de colocar vários waypoints;
  • Atenção aos detalhes visuais;
  • Cutscenes apelativas;
  • Movimentação libertadora.

CONTRAS

  • Não tem photo mode;
  • Nota-se algumas falhas visuais;
  • Glitches e bugs difíceis de ignorar;
  • Quando os crashes se lembram de existir;
  • Já acabou…

| Título | Outcast – A New Beginning
| Plataformas | Xbox Series X|S, PlayStation 5 e PC
| Género | Acção, Aventura, Exploração, Shooter
| Estúdio | Appeal Studios
| Publicadora | THQ Nordic
| Preço | 69,99€
Site Oficial

Ai, a criança em mim!

“AI A CRIANÇA EM MIM”

8/10


Código de review foi providenciado pela Dead Good Media
Foi utilizada uma Xbox Series X e uma TV Samsung 40″ 4K UHD para esta review

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