#GamingIsAWorldChanger | Roe vs Wade

Estamos em dias tristes. Foi ontem que saiu a decisão do Supremo Tribunal dos EUA, que dá o poder de decisão da criminalização ou não do aborto aos representantes de cada um dos 50 estados. A lei Roe vs Wade foi anulada.

Nas redes sociais é claro o tumulto que esta decisão provocou. Como todas as questões polémicas, parece haver ainda sinais de dois lados. Independentemente disso, o que têm os jogos a ver com o tópico? E o que é isto da lei Roe vs Wade?

VAMOS TER AS CONVERSAS QUE SE EVITAM

Em 2015, quando o grupo Xbox PT Dummies foi criado no Facebook, um dos primeiros propósitos foi construir uma casa segura para todos os seus membros, onde os seus direitos fossem respeitados. Em tudo na vida que providencia uma comunidade, sentido de união ou objectivo socialmente comum, é fundamental conseguir coerência e boa vivência entre todos os seus participantes. Neste caso, o que nos une são os videojogos, nomeadamente através da Xbox. Para outros que nos seguem, terá sido outras plataformas ou outros temas que lhes deram sentido a seguir e participar na nossa comunidade.

Como parte da nossa Missão quando este site foi planeado, pretendo manter-me fiel aos mesmos ideais com que temos vivido há quase 8 anos. Os videojogos são, em suma, uma extensão da Arte, um ramo presente na nossa espécie desde que começámos a pensar. Para isto, cito um dos excertos da nossa página anteriormente mencionada, onde o conceito está descrito. Página essa que agradecia que lessem na íntegra, caso não o tenham feito ainda.


Porque não modernizar o conceito dos antigos cafés, entre os séculos XVIII e XX, onde os intelectuais de diferentes áreas da ciência, arte, filosofia e política discutiam assuntos da época, desenvolviam novas ideias e criavam tendências mudando, literalmente, a sociedade? Actualmente, o mundo digital representa o futuro deste tipo de convívio, e os videojogos encontram-se no centro das novas gerações como um veículo de expressão de talento e formas de pensamento.


Fundamentalmente, os videojogos são mais uma extensão da psique humana. Feitos para os mais diversos propósitos, todos eles partem, efectivamente, de humanos. E são estes criadores que, tal como qualquer um de vocês, têm as suas vidas, traumas, medos, alegrias, conquistas e direitos.

© Mark Peterson

ROE VS WADE

Mas esperem lá. Afinal o que é isto do “Roe vs Wade”?

Em 1969, Norma McCorvey, que se deu a conhecer pelo pseudónimo de Jane Roe para proteger a sua identidade, engravidou pela 3ª vez. Roe queria abortar, mas como vivia no Texas não poderia fazê-lo a não ser que corresse perigo de vida. Contractou duas advogadas, Sarah Weddington e Linda Coffee, para entrar com um processo contra o promotor público da altura, Henry Wade, alegando que as leis de aborto do Texas eram inconstitucionais.

Em 1973, o Supremo Tribunal – que possuí autoridade jurídica suprema para decidir as leis, inclusive as da Constituição – finalmente decidiu que a 14ª Emenda da Constituição dos Estados Unidos garantia o direito à privacidade e que, por isso, qualquer mulher grávida tinha direito ao aborto.

Foi precisamente esta lei que ontem foi anulada sob o pretexto de que a Constituição afinal não dá o direito ao aborto, e que toda a autoridade para regular o tópico fica nas mãos do povo e dos seus representantes eleitos. Em suma, depende de cada estado, e as vidas das pessoas capazes de engravidar estão novamente em risco.

A POSIÇÃO DAS EMPRESAS GAMING

Há coisas que têm dois lados da moeda, e depois há aquelas que são apenas puramente certas ou erradas. Os direitos humanos são fundamentais e ainda temos um caminho muito longo a percorrer para garantir que são cumpridos.

Quando ao tópico em questão, as leis do aborto nunca impediram o aborto em si, apenas garantiram que, ao escolher abortar, uma pessoa teria direito a acompanhamento e forma de o fazer com segurança sem arriscar a própria vida. Continuará a haver abortos. A diferença é que com a sua ilegalidade, haverá mais riscos para quem o fizer, nomeadamente para quem não tem poder financeiro para contractar médicos ou viajar para abortar onde é permitido.

Tal como dito na nossa Missão, o mundo digital é o espaço onde tudo vai culminando e. como tal. as diferentes empresas do mundo dos videojogos, desde pequenos estúdios a grandes nomes demonstraram o seu apoio para com as vítimas da anulação da lei Roe vs Wade.

Com esta decisão, mais de metade dos 50 estados dos EUA considera o aborto ilegal, podendo ter ou não excepções relacionadas com gravidez de risco ou gravidez como resultado de violação. O que as empresas como Netflix, Amazon, Disney, Electronic Arts, Ubisoft, Sony e Microsoft estão a fazer é lutar para garantir que os seus trabalhadores têm acesso a cuidados de saúde caso optem por abortar em qualquer situação. Muitos inclusive demonstram a intenção de pagar despesas de deslocação para estados onde o aborto seja legal, caso uma pessoa empregada pela empresa se encontre num onde não o seja.

Estas posições são importantes e já se tornaram norma na indústria. Videojogos são sobre tudo no mundo, sim, inclusive discussões sociais, culturais e políticas. A perspectiva e voz dos dirigentes de uma empresa são importantes e fundamentais num mundo ainda tão manchado de histórias horríveis sobre as condições de trabalho de muitos trabalhadores. São eles que fazem as empresas. É fulcral que estas vocalizem aquilo que defendem, porque aquilo que move e define um grupo de pessoas, seja em que formato for, vai dizer muito sobre aquilo que vendem e querem trazer ao mundo. Não é isso que importa? Em adição, a forma como gastamos o nosso dinheiro afecta as prioridades destas entidades e grupos.

© Xbox

A COMUNIDADE DUMMIE

Em Portugal, felizmente, o aborto foi legalizado em 2007. Já no Brasil depende de algumas excepções extremas. Nos Dummies temos tanto pessoas capazes de gerar um feto, como seguidores de diferentes países em realidades diferentes. Quero garantir, novamente, que no que estiver ao meu alcance – e estou segura que do resto da equipa também – o nosso porto continuará seguro. Os vossos direitos importam. Quanto mais não seja, que continuemos a ser uma casa onde todos são bem vindos desde que respeitem o próximo, já que ainda somos demasiado pequenos para ajudar de forma mais directa.

Estas leis não obrigam ninguém a fazer o que não quer, “apenas” dão a liberdade de escolha aos envolvidos. Que a anulação da lei Roe vs Wade seja um exemplo péssimo passageiro do retrocesso que a humanidade por vezes consegue fazer.

Estaremos cá sempre a observar atentamente as acções das empresas envolvidas no mercado dos videojogos. Entre elas, lembramos também que muitas estão ainda longe de ser desculpadas pela forma como tratam os casos de assédio sexual, intimidação e racismo dentro do próprio contexto laboral. Sim, estamos a olhar para vocês, Activision e Ubisoft!

Muitas já se pronunciaram sobre o tema:

Se quiserem ajudar, a Gamespot fez uma lista de caridades que procuram financiar e apoiar as pessoas que procurem abortar de forma segura.

Os videojogos podem e devem ser usados para tornar o mundo um sítio melhor para se viver. Sempre.

#GamingIsAWorldChanger

COMUNIDADE DUMMIES

Vamos crescer juntos

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