Cyberpunk 2077: Um atraso que mudou a indústria

Atrasos são uma constante em desenvolvimento de produtos e não obstante isso é tratado com bastante tranquilidade em quase todas as indústrias. Entretanto, no mercado de jogos digitais atrasos não são, para o grande público, algo fácil de digerir e, infelizmente, adiamentos nos lançamentos estão ocorrendo mais do que gostávamos de admitir: “Redout 2”, “Kerbal Space Program 2”, “The Legend of Zelda: Breath of the Wild 2”, “Suicide Squad: Kill The Justice League”, “Starfield” e muitos outros que estavam no meu radar foram adiados para o final do ano. Alguns só saem em 2023!

Além do óbvio (pandemia, guerras e apocalipse), o que pode causar esses atrasos?

Existem muitos fatores envolvidos, mas alguns dos motivos são mudanças tecnológicas, como troca e melhorias de engines, novos efeitos e técnicas de renderização, entre outros pormenores. Além disso, há também o desenvolvimento confuso, que muitas vezes é causado por mudanças de projeto, escopo e lideranças, mudanças no estilo ou mesmo “ordens de cima”, e também a inevitável influência de outros grandes títulos, que podem apresentar soluções para problemas de design e que de uma forma ou de outra forçam a melhoria do jogo a ser desenvolvido em questão. Outros tipos de problemas comuns são dificuldades técnicas com motores gráficos e de física que acabam não se encaixando naquilo que o jogo propõe e precisam ser profundamente personalizados, além de mudanças nas equipes causadas demissões, constantes treinamentos de membros antigos e novos, entre outros problemas de RH, mas agora existe uma variável extra: o medo de ser o próximo “Cyberpunk”.

Cyberpunk 2077
Metro urbano? Que metro? – “Cyberpunk 2077” © CD Projekt Red

Foi realmente angustiante. Anos após o anúncio da produção, nenhuma informação relevante sobre o que ocorria ou mesmo uma screenshot foi mostrada. Isso por si só dava dicas de que alguma coisa não ia muito bem, já que quando há algo realmente pronto não há nada mais natural de que mostrar o produto para o consumidor. Entretanto, não havia nada, nenhuma informação concreta, screenshot ou vídeo, apenas rumores e vagas possibilidades de lançamento, até que então, definiram 1 data: 16 de abril de 2020.

Era anunciada finalmente, a data de lançamento oficial de “Cyberpunk 2077”, um dos jogos mais esperados da década.

“Cyberpunk 2077” foi então adiado gerando críticas moderadas, primeiro para 17 de Setembro de 2020 e algum tempo depois para 19 de Novembro, desta vez gerando fortes críticas da mídia especializada e dos consumidores. Logo depois, foi adiado mais uma vez e por fim lançando somente em 10 de Dezembro de 2020, sob uma chuva de críticas devido aos contínuos atrasos e sob enorme pressão com as altíssimas expectativas de todos os interessados, incluindo os stakeholders da CD Projekt Red.

Quem dera que a empresa tivesse adiado este game mais um pouco, ou até mesmo 1 ano… talvez tudo fosse diferente…

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Twitter @MichaelDoesLife

Apesar de ter sido adiado várias vezes, “Cyberpunk 2077” claramente não estava finalizado e estava muito aquém do escopo planejado para o projeto.

O jogo era obscenamente problemático! Com sistemas falhos e incompletos, NPCs desaparecendo e/ou mesmo andando em círculos em frente ao jogador, sem contar o sistema de metrô, que fora exibido diversas vezes, mas que fora removido da versão final literalmente por falta de tempo para desenvolver o sistema de transporte. Para mais, policiais apareciam em qualquer lugar (instantaneamente, incluindo no topo de grandes edifícios) e itens afundavam no chão, muitas vezes impedindo até mesmo o progresso de missões, e muitas outras centenas (talvez milhares) de problemas que deveriam ter sido resolvidos antes do lançamento.

Não podemos esquecer que além de tudo isso, o jogo foi muito mal otimizado para a geração de consoles anterior, o que fez com rodasse sempre por entre 20 e 28fps inconstantes em ambos Xbox One e PS4.

A questão é que “Cyberpunk” ainda se pagou muito bem, vendendo um total de 13 milhões de cópias em seus primeiros 10 dias de mercado. As altíssimas expectativas e a enorme pré venda salvaram a CD Projekt de um desastre ainda maior, entretanto nem todo mundo é “Cyberpunk 2077”, com quase 10 anos de hype engajado na mente do público-alvo e quase ninguém pode arriscar o próprio nome dessa forma. Para ser honesto, nem a CD Projekt Red poderia… mas tudo poderia ter sido evitado ou razoavelmente mitigado caso o jogo tivesse sido adiado (corajosamente, mais uma vez) e o estúdio tivesse tempo de finalizar o projeto de forma condizente em todas as plataformas. 

Um importante adendo é que as estimativas de venda eram de 29 milhões de unidades no total e elas estagnaram em 18 milhões, só que não foram perdidas só as potenciais vendas de “Cyberpunk”: A CD Projekt Red teve perdas bilionárias no mercado de ações e foi processada por seus próprios investidores devido ao lançamento desastroso do game.  A empresa está atualmente se recuperando, principalmente depois do anúncio de “The Witcher 4”, mas longe do seu pico de mercado e com uma estigma na mente dos jogadores que não vai ser fácil de tirar, isso se alguém esquecer disso um dia.

Portanto, a lição aparentemente foi finalmente aprendida pela maioria das empresas, pois todos sabem o quão pesado pode ser um lançamento de um produto inacabado, e que mais do que as vendas, a própria sobrevivência da empresa pode ser colocada em risco no processo. Atrasar e lançar algo claramente inacabado é um pecado que poucos vão querer cometer, mas se houver atrasos, que seja para finalizar o produto com qualidade. Felizmente a audiência também parece estar aprendendo a lidar bem com os atrasos, pois mesmo os jogadores estão percebendo que lançamentos feitos antes da hora são extremamente prejudiciais e que nem todo crunch do universo (e sabemos que “Cyberpunk” se enquadra aqui) faz milagre. “Anthem” também ajudou bastante a solidificar este trauma e não podemos esquecer dele, não é?

Então tenhamos um pouco de paciência pois os adiamentos são muitos:

“S.T.A.L.K.E.R. 2” foi adiado para 2023. Infelizmente guerras acontecem e além das incontáveis e terríveis consequências, essas chatices menores também entram no pacote. “The Settlers” foi adiado para “algum dia”, pois na Beta Fechada as críticas levaram os desenvolvedores a revisar o projeto e não há previsão de lançamento no momento. “Redfall”, uma das grandes estrelas da Bethesda, também foi adiado para o ano que vem pois exigia mais polimento. O MMO “The Day Before” foi adiado para março de 2023 pois mudaram o motor para a Unreal Engine 5. O patch de nova geração de “The Witcher 3” foi transferido de uma equipe externa para uma equipe interna da CD Projekt e por isso foi adiado “indefinidamente”.

Entre vários outros motivos, o que importa é que atrasos ficarão ainda mais comuns, o que ao menos deve resultar em menos lançamentos desastrosos como os que tivemos nos últimos anos. Melhor para nós, melhor para eles, pior para os acionistas.

Vamos terminar por aqui com a célebre frase do mestre Miyamoto:

Shigeru Miyamoto

COMUNIDADE DUMMIES

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